Tal como em situações como o desemprego ou a emigração
também no desporto devemos seguir o pensamento do nosso líder pois é para isso
que temos líderes, para pensarem por nós. Além disso ainda temos a vantagem de
termos várias interpretações para o mesmo fenómeno. Como encara Passos Coelho a
derrota da selecção portuguesa frente à espanhola nas meias-finais no Europeu?
Se fosse antes das eleições Passos Coelho diria que apesar
de não ter tido responsabilidades na derrota pedia desculpa aos portugueses.
Depois de ganhar as eleições a derrota de Portugal seria o castigo merecido por
não se ter feito o trabalho de casa, seriam necessárias reformas para que o
ataque português fosse mais produtivo e o Gaspar depressa descobriria um desvio
que justificaria o corte dos prémios de jogo.
Antes das eleições Passos Coelho diria que a selecção
nacional, ao contrário do que sucedeu com a selecção espanhola, não fez o
trabalho de casa. Depois das eleições Passos Coelho justificaria a derrota
dizendo que era inevitável e que o actual treinador pouco ou nada poderia
fazer, o programa já estava negociado pelos anteriores dirigentes da Federação.
Antes das eleições Passos Coelho desvalorizaria o papel das
arbitragens criticando os que tentavam justificar os problemas da selecção com
os erros intencionais dos árbitros que estariam a ser estimulados pelo Platini.
Depois das eleições Passos Coelho juntaria a sua voz a Cavaco Silva e proporia
uma federação europeia de árbitros independente da UEFA e de outros interesses
privados.
Antes das eleições Passos Coelho consideraria a derrota uma
desgraça para o país, acusaria o governo de nada ter feito para a evitar e
apresentaria uma moção de censura ao governo. Depois das eleições Passos Coelho
diria que a derrota foi a consequência dos nossos abusos e desleixo, que seria
uma oportunidade para o país promover as mudanças e reformas e que cada
português devia encontrar nessa derrota um incentivo para a mudança.
Antes das eleições Passos Coelho consideraria a derrota uma
desgraça económica para o país, agora descobriria que com a derrota seria pouco
provável a venda de alguns jogadores que ainda jogam em Portugal, o que traria
vantagens ficais pois enquanto cá estão sempre vão pagando alguns impostos.
Antes das eleições a derrota seria uma infelicidade para um
povo que em tempo de sacrifícios seria recompensado com o espectáculo do
futebol. Depois das eleições a derrota da selecção poderá ser um importante
contributo para aumentar a produtividade e a ausência na final equivaleria ao
corte de um feriado, de um ponto de vista económico a derrota nas meias-finais
seria trata pelo sôr Álvaro como uma importante reforma estrutural que muito agradaria
à tia Merkel.
PS: A esta hora Cavaco Silva já terá dito à esposa “Ó Maria,
toma lá mais esta camisola do n.º 1, engoma-a e junta às outras. Como agora o
governo quase não me dá trabalho para férias aproveitamos e o jipe em vez de
levar os despachos leva a minha colecção de camisolas do n.º1 da selecção.