Se o país tivesse sido poupado à fraude do BPN muito
provavelmente não estaria na situação em que se encontra, o montante envolvido
é muito superior ao que o Estado poupa ao espoliar funcionários e pensionistas
ficando-lhe com os subsídios. Mas a nossa justiça não fez o mais pequeno
esforço para identificar os responsáveis, limitou-se a fazer um simulacro de
investigação e a levar um ou dois a julgamento. É evidente que não querem que o
povo conheça toda a extensão da fraude, os custos sociais que provocou e o nome
de todos os beneficiários.
Se o país combatesse eficazmente a evasão fiscal poderia
promover justiça fiscal e disporia de recursos financeiros que teriam evitado a
crise financeira. Mas parece que quem manda neste país não quer que assim seja,
o país esvai-se em evasão fiscal e o governo faz de conta que o fenómeno não
existe, até se dá ao luxo de promover a desorganização da máquina fiscal para promover
fusões da treta. Desde os tempos dos perdões fiscais de Oliveira e Costa,
secretário de Estado de Cavaco Silva, que a secretaria de Estado dos Assuntos
Fiscais não passa de um serviço de finanças reservado aos mais ricos, ali
produz-se legislação onde se multiplicam os truques para que os mais ricos
beneficiem de esquemas para que não paguem impostos.
Se o governo cortasse nas famosas gorduras do Estado, se
eliminasse os tais instituto que estão a mais e acabasse com a vergonha das
fundações privadas que servem para muitos evitarem pagar impostos não teria
sido necessário cortar tanto na saúde ou aumentar o IVA nos produtos
alimentares. Mas o governo preferiu sacrificar os mais pobres para que o Estado
continue a alimentar os amigos, enquanto corta em vencimentos e investimento.
E como se tudo isto não bastasse o Passos Coelho decidiu ser
mais troikista do que a troika e atirar a economia portuguesa para um beco sem
saída. A irresponsabilidade de coca bichinhos universitários e de um
primeiro-ministro inexperiente, com fracos recursos intelectuais e sem grande
sensibilidade para a realidade social está conduzindo o país para a ruina e o
conflito social.
O défice cresce, o fisco corre o risco de colapsar com a
evasão fiscal, o desemprego cresce exponencialmente, o país está cada vez em
pior situação e bem pior do que estava antes do pedido de ajuda internacional e
do que fala o primeiro-ministro? Não sugere o combate à evasão fiscal, não diz
que vai cortar as gorduras do Estado, esqueceu-se das fundações e dos
institutos, diz que se for necessário adopta mais austeridade, rodeado de
seguranças armados o nosso primeiro-ministro é um homem muito corajoso.
Esta gente ainda não percebeu que já foi longe demais num
programa de austeridade que além de inútil promove a injustiça, a discriminação
e que visa tirar aos pobre e a alguma classe média para dar aos que por inércia
ou incompetência foram incapazes de se manter competitivos num mercado cujas
regras defenderam. Estão a tirar aos que trabalham para darem a empresários que
só foram competitivos com escravidão, subsídios e proteccionismo.
Não é mais austeridade que o povo já não aguenta, aquilo que
o povo já não estará disposto a suportar durante muito mais tempo é a tremenda
injustiça que lhe está sendo imposta.