Há qualquer coisa de errado na importância que se está a dar
ao fenómeno do futebol, chegando a parecer que a importância que historicamente
foi dada aos exércitos é agora dada às selecções nacionais de futebol., até se
grita o hino nacional com maior empolgamento antes de uma futebolada do que
quando uma unidade militar parte para uma operação no estrangeiro.
Compreende-se que a populaça vá esperar os seus heróis do
calcanhar e da cabeçada ao aeroporto, que queiram imitar o penteado do Hugo
Veloso, as tatuagens do Meireles ou a franja do Nelson Oliveira, até podem
sonhar ter um dos bólides do Cristiano Ronaldo. Até se aceita que uma Merkel vá
dar uns pulinhos para o estádio ou que a família real espanhola vá ver a final.
O que não se compreende é a institucionalização da selecção
como se fosse o terceiro símbolo nacional, depois da bandeira e do hino. Que o
Presidente goste de um joguinho de futebol e vá ver um jogo é perfeitamente
aceitável, isto se não levar a comitiva do costume, incluindo o mordomo. Mas
realizar uma sessão formal de despedidas e outra de chegada já não se
compreende.
Em Portugal há milhares de portugueses que dão o litro, que
não cobram nada ao país, que não tratam como traidores à nação os que os
criticam e que nunca serão bajulados por um Presidente da República que parece
mais empenhado em cerimónias da treta do que em fazer cumprir a Constituição no
momento de estarem em causa os direitos dos seus concidadãos.
O Presidente da República sabe quem é a Sara Moreira? É
provável que não saiba, mas a rapariga ganhou uma medalha de bronze nos
campeonatos europeus de atletismo, um feito que nos EUA teria mais destaque do
que idêntica medalha no Soccer. É bem mais difícil e exigente para um atleta
ganhar uma medalha europeia nos quinhentos metros do que dar uma cabeçada numa
bola ou um remate certeiros depois de andar cinco segundos sem saber onde está
a bola.
Compreende-se que o marketing das grandes marcas, os interesses
das televisões ou os negócios da UEFA ou da FIFA transformem o futebol num
espectáculo global, o que não se compreende é que sejam as instituições
nacionais a confirmar esta situação. EM vez disso, das instituições nacionais
esperar-se-ia equilíbrio no tratamento de todos os que se destaquem no
desempenho da sua arte.
A imagem que Cavaco Silva está a dar ao país é a de que o
sucesso não passa pelo estudo, pela dedicação ou pelo sacrifício, passa pelo
jeito para dar toques na bola. Talvez se compreenda que Cavaco tente disfarçar
a realidade nacional apostando no futebol como se o país fosse levar um “chuto”
no Casal Ventoso, mas também nesta perspectiva estamos perante um erro, mais
tarde ou mais cedo a realidade está de regresso e, ao que consta, é cada vez
mais preocupante. Dar tanta importância ao futebol é tratar o país ao pontapé,