sexta-feira, junho 29, 2012

Pontapés no país


Há qualquer coisa de errado na importância que se está a dar ao fenómeno do futebol, chegando a parecer que a importância que historicamente foi dada aos exércitos é agora dada às selecções nacionais de futebol., até se grita o hino nacional com maior empolgamento antes de uma futebolada do que quando uma unidade militar parte para uma operação no estrangeiro.
  
Compreende-se que a populaça vá esperar os seus heróis do calcanhar e da cabeçada ao aeroporto, que queiram imitar o penteado do Hugo Veloso, as tatuagens do Meireles ou a franja do Nelson Oliveira, até podem sonhar ter um dos bólides do Cristiano Ronaldo. Até se aceita que uma Merkel vá dar uns pulinhos para o estádio ou que a família real espanhola vá ver a final.
  
O que não se compreende é a institucionalização da selecção como se fosse o terceiro símbolo nacional, depois da bandeira e do hino. Que o Presidente goste de um joguinho de futebol e vá ver um jogo é perfeitamente aceitável, isto se não levar a comitiva do costume, incluindo o mordomo. Mas realizar uma sessão formal de despedidas e outra de chegada já não se compreende.
  
Em Portugal há milhares de portugueses que dão o litro, que não cobram nada ao país, que não tratam como traidores à nação os que os criticam e que nunca serão bajulados por um Presidente da República que parece mais empenhado em cerimónias da treta do que em fazer cumprir a Constituição no momento de estarem em causa os direitos dos seus concidadãos.
  
O Presidente da República sabe quem é a Sara Moreira? É provável que não saiba, mas a rapariga ganhou uma medalha de bronze nos campeonatos europeus de atletismo, um feito que nos EUA teria mais destaque do que idêntica medalha no Soccer. É bem mais difícil e exigente para um atleta ganhar uma medalha europeia nos quinhentos metros do que dar uma cabeçada numa bola ou um remate certeiros depois de andar cinco segundos sem saber onde está a bola.
  
Compreende-se que o marketing das grandes marcas, os interesses das televisões ou os negócios da UEFA ou da FIFA transformem o futebol num espectáculo global, o que não se compreende é que sejam as instituições nacionais a confirmar esta situação. EM vez disso, das instituições nacionais esperar-se-ia equilíbrio no tratamento de todos os que se destaquem no desempenho da sua arte.
  
A imagem que Cavaco Silva está a dar ao país é a de que o sucesso não passa pelo estudo, pela dedicação ou pelo sacrifício, passa pelo jeito para dar toques na bola. Talvez se compreenda que Cavaco tente disfarçar a realidade nacional apostando no futebol como se o país fosse levar um “chuto” no Casal Ventoso, mas também nesta perspectiva estamos perante um erro, mais tarde ou mais cedo a realidade está de regresso e, ao que consta, é cada vez mais preocupante. Dar tanta importância ao futebol é tratar o país ao pontapé,