sábado, abril 26, 2014

É a dialéctica ó estúpido!

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Aos que insistem em não conhecer a história sugiro que vejam as estátuas de Lisboa

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.

António Aleixo, poeta da minha terra

Muitos insistem em pensar que na história há grandes vitórias finais e não deixa de ser curioso que isso suceda numa época em que todas as ideologias são desmentidas. Ninguém na Europa e muito menos em Portugal acreditaria que o nosso muito bem sucedido merceeiro holandês seria hoje um capitalista de sucesso numa Polónia governada à direita e aliada subserviente da Alemanha. E muito menos acreditariam se lhes fosse dito que uma boa parte da fortuna desse senhor resultou de um bom aproveitamento das mudanças sociais apoiadas pelos comunistas portugueses, bem como pelos podres cujo desenvolvimento foi permitido pela democracia.
  
Passos Coelho está destruindo o modelo social construído desde 1974 para repor a estrutura de classes sociais anterior a 1974, um filho da classe média colonial, muito provavelmente educado numa visão ultraconservadora da democracia portuguesa e no ódio às consequências históricas do 25 de Abril está vingando os seus, mas esquece que de um dia para o outro tudo se pode inverter. Mas, essa gente que sonhava com um imenso império colonial em pleno século XXI não percebe que pretende um modelo social e económico incompatível com o actual nível cultural e académico dos portugueses. Os resultados estão à vista, uma boa parte dos nossos jovens partiram, vão partir, sonham partir ou têm a intenção de o vir a fazer, dantes partiam da miséria e da repressão, agora partem em busca de melhor e onde existam menos imbecis.
  
O mesmo Ulrich que hoje diz que "eles aguentam" tem uma boa parte da fortuna acumulada  escondida e ao abrigo de uma qualquer off shore, não vá o diabo tecê-las. O empregado bancário da família Eduardo dos Santos sabe muito bem que de um dia para o outro tudo se pode inverter. Todos os que imaginam que os modelos económicos e sociais evoluem no sentido daquilo que pensam ser o paraíso estão enganados e o mais grave é que persistem em enganar-se a si próprios.
  
Veja-se a Ucrânia e uma boa parte do Leste, há poucos anos era um paraíso na terra segundo a perspectiva dos comunistas portugueses, hoje é um viveiro de neo-nazis e economias capitalistas bem mais violentas do que as da Europa Ocidental. Quanto mais se força uma sociedade a ir num caminho diferente daquele que seria o escolhido pelo povo maior e mais violenta será a inversão dessa aberração. De nada serve criar falsos paraísos que ninguém desejou.
  
Do cimo da sua santa ignorância Passos Coelho está convencido de que é um visionário, faz o que quer agora e daqui a uns anos verá estátuas suas por todo o lado em sinal de gratidão pela sua obra. Cavaco Silva também fez dos seus mandatos uma maratona de inaugurações à custa das ajudas comunitárias conseguidas por Mário Soares nas negociações de adesão e hoje é um autêntico morto vivo, um zombie do século XX que já morreu politicamente mas alguém se esqueceu de o enterrar na luxuosa Quinta da Coelha.
  
A direita está usando a Troika para fazer chantagem sobre os portugueses e tem a sensação de vitória, de que a democracia é uma farsa e a Constituição não existe. Está enganada e isso só prova que insiste em ser burra, mais tarde ou mais cedo a história seguirá o seu curso  e como cantava Zeca Afonso aprenderá que “o povo é quem mais ordena”. O que Passos Coelho está fazendo não é destruir o 25 de Abril mas sim criar todas as condições para que aconteça outro. Como lhe diria um velho marxista mais empedernido "é a dialéctica ó estúpido!".