Há um mercado a que os economistas designam por mercado de
trabalho o que significa, a crer nos marginalistas que haverá um equilíbrio que
determina o valor do trabalho em função da oferta e da procura. Se esta ideia
não suscita grandes dúvidas as questão que se coloca é de saber qual o melhor
modelo para se chegar a esse valor de equilíbrio. A história tem dado lugar a
muitos modelos desde o corporativismo ao actual modelo supostamente assente na
concertação social, sem esquecer o que antigamente se passava na Praça do
Geraldes, em Évora.
Qual é o melhor modelo do ponto de vista dos trabalhadores?
A questão não é assim tão simples, os trabalhadores têm vindo a prescindir de
lutar por melhores salários com recurso a greves em favor da concertação social.
Os patrões têm feito algumas cedências a esta solução evitando as perdas que
resultariam das greves e de toda a instabilidade daí resultantes. Mas, de
repente, tudo o que foi acordado durante anos foi ignorado em nome da crise.
A troika e um governo de extrema-direita alteraram as regras
do jogo, deixou de haver concertação social e as reuniões entre patrões e
trabalhadores não passam de sessões de chantagem em nome das exigências de uma
troika que nunca assume nada do que o governo invoca. Aquilo que se conseguiu
num modelo de mercado de trabalho foi perdido pela alteração desse modelo,
agora não há nem concertação, negociação, nas reuniões os patrões e o governo
fazem exigências e impõem condições, os trabalhadores aceitam em nome da
superação da crise.
Deixou de existir qualquer concertação social e o modelo de
mercado laboral que hoje se pratica nos governos ministeriais não é mais do que
uma versão fina do que no passado se passava na Praça do Geraldes. Face a isto
vale a pena questionar se faz algum sentido os trabalhadores se sentarem à mesa
da negociação. É evidente que não faz e o debate em torno do salário é uma
prova disso, aquilo que tem sucedido já ofende a consciência colectiva dos
trabalhadores, patrões e governo gozam com a miséria, sabem que há gente a
passar fome por ganhar abaixo do mínimo que assegure a dignidade, mas insistem
em usar o salário mínimo para conseguir ainda mais vantagens para os patrões.
Talvez seja tempo de os trabalhadores abandonarem os
gabinetes e lutarem nas fábricas e nas ruas, talvez assim patrões que já foram
do Partido Comunista comecem a mijar pelas calças abaixo e o governo passe a
ser honesto e a cumprir o que se acorda nos acordos de concertação social. Os
trabalhadores nada ganham com estas negociações da treta, condicionada por
sindicalistas aburguesados e por partidos de políticos oportunistas, não vale a pena negociar um mísero aumento do salário mínimo ou assinar acordos com gente desonesta.