quarta-feira, abril 02, 2014

Propaganda

Há muitas décadas que um país europeu não era sujeito a doses tão grandes de propaganda, visando manipular a população, atirando grupos sociais contra grupos sociais, jovens contra idosos ou grupos profissionais, visando atirar culpas sobre supostos incêndios sobre grupos a estigmatizar, promovendo a culpa, o ódio, o complexo colectivo. Curiosamente os ingredientes são sempre os mesmos, os objectivos são similares e os intervenientes não são coxos mas evidenciam complexos, há os feios, os que foram educados a não gostar de um país muito sujo e os que sentem complexos por não serem doutores.
  
Tal como noutras experiências a propaganda é assimilada como estratégia pelos que se voluntariam para apoiar o poder, se Passos diz que os funcionários públicos ganham muito o Vítor Bento propõe cortes, se o Passos diz que o país come demais o Ulrich diz que eles aguentam mais austeridade. O país deixou de ser uma democracia e passou a ser um campo de testes de novas utilizações para a arma da mentira, da manipulação e da propaganda. 
  
Não há imbecil que não considere Portugal um território fértil, veja-se o caso de Durão Barroso que se esqueceu de que era (ainda) presidente da Comissão Europeia e veio cá atirar falsas acusações contra um vice-governador do BCE. Bastaram dois dias para Constâncio desmontar a manobra de Durão Barroso demonstrando que a Europa tem à sua frente um mentiroso pouco escrupuloso. Mas a mentira passou, uma mentira montada graças a uma pergunta que o próprio Barroso pediu ao jornalista para lhe ser feita. Para muitos portugueses e imbecis é coisa que não falta por aí, todo o sofrimento dos portugueses é culpa do Constâncio. A mentira foi tão rasca que poucos a utilizaram, apesar de tudo este Barroso em estratégias de propaganda é demasiado verde ao lado de um Maduro.
  
Destrói-se o sistema de segurança social porque é preciso assegurar a sua sustentabilidade, usam-se os fundos para comprar dívida e consideram-se as contribuições como compra de acções de risco que podem ser valorizadas ou desvalorizadas em função das circunstâncias, o país passa a especular com essas contribuições e as pensões passam a depender do sucesso da economia. Isto é, um qualquer Vítor Gaspar decide fazer uma experiência, a economia entra em recessão e os pensionistas deixam de receber pensão porque as coisas correm mal.
  
Atribuem-se a denúncia  da  intenção de cortar vencimentos e pensões a mentiras do adversários para depois se justificar a decisão com supostos estudos de que os funcionários públicos estão para Portugal como os judeus estavam para a Alemanha, são parasitas bem remunerados. E quando depois de uma vaga de cortes sucessivos os funcionários públicos já são os que menos ganham justificam-se novos cortes sugerindo que são a peçonha da economia, não ganham um salário como sucede com qualquer trabalhador, os salários do sector privado são a retribuição merecida do trabalho, no sector público são despesa feita por parasitas.
  
A verdade é que quase 35% dos portugueses concordam com a propaganda, uns porque acreditam e outros porque são idiotas, não seria mesmo de admirar que entre os funcionários públicos e pensionistas existam mais de 35% que irão votar nos seus próprios carrascos, aliás, não é a primeira vez que as vítimas acreditam que estão sendo levados para um paraíso.