Foto Jumento
Forte de Peniche
Um rapaz precoce
Tinha 12 anos em 1974 mas guarda da ocasião a memória de um tempo que tinha chegado ao fim.
Tinha 12 anos em 1974 mas guarda da ocasião a memória de um tempo que tinha chegado ao fim.
«Insistem muito comigo sobre o que faço: crónica ou coluna de opinião? Como prova de que não saberia fazer esta última, a minha resposta mais comum é: sei lá! Saberia lá eu citar Max Weber para explicar a decadência das coligações através de uma frase da ministra Maria Luís Albuquerque, à terça, prometendo "tributação sobre produtos que têm efeitos nocivos para a saúde", seguida do ministro António Pires de Lima, à sexta: "Não há taxa. É uma ficção, um fantasma que nunca foi discutido em Conselho de Ministros e cuja especulação só prejudica o funcionamento da economia"... Um colunista de opinião argumentaria sobre a contradição entre A (Albuquerque) e B (Lima) e mostrava como essas notícias confirmam o que já fora escrito por Bertrand de Jouvenel no magistral Essai de Politique Pure. Mas eu sou mero cronista, mais terra-a-terra. Sou colecionador de borboletas e o mais alto que vou nem sou eu, é a rede, caçando lepidópteros que voam por aí. O conflito no interior do Governo por causa das taxas sobre o excesso açúcar não me escapa, como não escapa aos opinion makers. Mas numa crónica (nas minhas, pelo menos) não se sobe acima da chinela. Lembro a taxa da Albuquerque só porque ela ilustra o sugar de néctar, tão próprio das borboletas. Lembro o suicídio da coligação de Lima, por evocar a vida efémera das borboletas. Se a vida (a crónica do quotidiano) fala por si, porque hei de eu aborrecer-vos com a minha opinião?» [DN]
Ferreira Fernandes.
Infelicidades verbais várias
«Não é que seja surpreendente para ninguém a forma como o duo dinâmico, Passos Coelho/Maria Luís Albuquerque, conduz o processo político. O já nosso mais que conhecido cocktail de ignorância, incompetência e desprezo pelos cidadãos, servido com a imprescindível casquinha de limão mentirosa, continua a jorrar em abundantes doses.
Esta semana, Passos Coelho abusou do limão. Ou melhor, como dizia um membro do Conselho de Ministros ao Expresso, o "primeiro-ministro teve infelicidades verbais várias". Pelos vistos, há mais ministros a aderir à novilíngua. A bem verdade, o muitíssimo provável autor da dita frase já começa a ser um especialista: o seu primeiro contributo foi a alteração do significado da palavra irrevogável.
No diálogo televisivo de terça-feira, o primeiro-ministro falou dum alargamentozinho no corte de salários face ao do anterior Governo. Segundo o primeiro-ministro, fazer cortes de 3,5% nos salários a partir de 1500 euros não é muito diferente de cortar 2,5% a partir dos 675. Também, segundo ele, não existirá grande diferença entre o tal corte de 3,5% nos salários de 1500 euros e o atual de 8,5%. Mais do dobro. As brutais diferenças não acabam aqui, mas serão pormenores que não passam duma maçadoria. Infelicidade verbal, pois então. Mas existiram mais aspectos que houve quem achasse claros. Houve tempo para libertar (bem sei que agora esta palavra quer dizer despedir, mas é só enquanto não nos habituamos) uma não verdade, quando disse que os cortes nas despesas de funcionamento do Estado tinham sido de 1600 milhões de euros: não foram, foram de metade desse valor como provou o Jornal de Negócios dois dias depois. Infelicidade verbal, sem dúvida. Também não faltaram, no alegre convívio, momentos de puro entretenimento: o desonerar (isto dos novos significados deve ter como objetivo aumentar a atividade económica das editoras de dicionários, só pode) das pensões e salários em 2016. Se der, eventualmente, às tantas. Tão certo como "termos cumprido as metas". Não houve tempo para explicar como é que não se tendo cumprido uma única meta original se diz exatamente o contrário. Infelicidade verbal, claro.
Depois, e como se fosse a coisa mais natural do mundo num responsável pela condução dos destinos dum país, pôs-se a adivinhar, a achar, a alvitrar, dizendo com a candura dos irresponsáveis que a Segurança Social não é sustentável. Um cidadão faz os seus descontos, acredita no sistema que lhe venderam, e vem alguém que representa a parte com quem ele fez o contrato dizer que aquilo não presta. Estudos que o comprovem? Provas irrefutáveis? Um numerozinho que seja? Nada. Põe-se em causa um pilar fundamental da comunidade utilizando o coeficiente de queixas, fazendo palpites, tendo uma fezada. Infelicidade verbal do líder do seu Governo, sr. ministro escondido com o rabo de fora?
Curiosamente, não faltam personalidades, da esquerda à direita, com provas dadas e estudos publicados, a dizer exatamente o contrário e até, espanto dos espantos, a argumentar com números, apresentando provas.
Se se fala de assuntos que dizem respeito à sobrevivência das pessoas, ao seu mais básico núcleo de direitos como salários, ou a contratos civilizacionais como a Segurança Social, que podíamos esperar da forma como se está a tratar da reforma do sistema de pensões, ou melhor, do método para tornar os cortes definitivamente provisórios ou provisoriamente definitivos? Aquela coisa que não devemos transformar um bicho de sete cabeças, nas palavras de Passos Coelho, aquilo de tirar dinheiro às pessoas que não têm maneira de o ir buscar a mais lado nenhum e que para isso trabalharam toda a vida. Será que nos devemos espantar? Espantar, talvez não. Mas não podemos deixar de nos indignar. É demasiado insultuoso ignorar por completo os cidadãos que se representa, é brincar com a dignidade das pessoas estarmos a 15 dias da apresentação duma medida que altera por completo a vida de tanta gente e percebermos que não existiram estudos sérios, que não se sabe ainda o que fazer, que não houve a mais pequena tentativa de diálogo com os parceiros sociais ou partidos da oposição, que um primeiro-ministro fala de relatórios que os que os deviam ter feito desconhecem, que o Ministério da Segurança Social não é tido nem achado no processo que aparentemente a única reforma se chama cortar.
Também a palavra "pessoas" perdeu significado. Deve ser isso. Talvez a expressão "vida das pessoas" tenha também uma nova dimensão. Algo com que se pode brincar, que pode ser testado, que em quinze dias se arruma.
Infelicidades várias temos tido nós e as piores, de certeza absoluta, não são verbais.» [DN]
Autor:
Pedro Marques Lopes.
Boas aventuranças do ajustamento
«As dificuldades financeiras das famílias obrigaram muitos estudantes do ensino superior a terem cuidados redobrados na altura de fazerem as refeições e nem as cantinas universitárias ficaram a salvo dessa dinâmica. Entre 2010 e o final de 2013, houve uma redução de mais de um milhão de refeições servidas nas instituições públicas. Foram substituídas por almoços e jantares trazidos de casa e aquecidos em micro-ondas — objecto cada vez mais presente nas faculdades. As ofertas alternativas nos snack-bares e cafetarias e horários de almoço mais curtos também ajudam a explicar esta variação.
Em 20 das 28 universidades e institutos politécnicos do país serviram-se, em 2010, mais de 5 milhões de refeições (cerca de 5.143.000), mostram os dados recolhidos pelo PÚBLICO. Esse valor passou no ano passado para menos de 4 milhões (3.945.000).
Actualmente (dados actualizados até Março deste ano), a média mensal de refeições servidas ronda as 480 mil, contra 618 mil em 2010 — uma média que tem em conta que durante o mês de Agosto as cantinas fecham e que algumas encerram também em alguns períodos de pausa lectiva, como a Páscoa. Isto representa uma quebra de 22%.
Neste período, o preço das refeições (tipicamente entre 2 e 4 euros) não sofreu alterações na maioria das cantinas do ensino superior. E, apesar da diminuição nas entradas no concurso nacional de acesso, o número total de alunos inscritos no ensino público até cresceu (293 mil, em 2010, para 303 mil, em 2013, de acordo com o portal Pordata).» [Público]
Parecer:
É fácil de imaginar o que pensará Passos Coelho desta notícias "Nem eu quando andava a receber eplicações da MAria Luís nem o meu amigo Relvas quando andou a tirar a sua brilhante licenciatura precisávamos de ir à cantina, façam como nós!"
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se.»
«O ex-presidente do Benfica Manuel Vilarinho foi este sábado detido por coação e resistência a agente da autoridade durante uma operação de fiscalização de trânsito em Lisboa. Foi também multado por excesso de álcool no sangue.
Segundo a fonte do comando metropolitano de Lisboa, a detenção do ex-presidente 'encarnado' ocorreu "por volta das 09:30 da manhã, no âmbito de uma fiscalização de trânsito normal" na Avenida de Ceuta, em Lisboa.» [DN]
Bons exemplos dados por um alguém que foi dirigente desportivo e procurador.
Já com os copos às 9.30 da manhã?
«O ex-presidente do Benfica Manuel Vilarinho foi este sábado detido por coação e resistência a agente da autoridade durante uma operação de fiscalização de trânsito em Lisboa. Foi também multado por excesso de álcool no sangue.
Segundo a fonte do comando metropolitano de Lisboa, a detenção do ex-presidente 'encarnado' ocorreu "por volta das 09:30 da manhã, no âmbito de uma fiscalização de trânsito normal" na Avenida de Ceuta, em Lisboa.» [DN]
Parecer:
Bons exemplos dados por um alguém que foi dirigente desportivo e procurador.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»