segunda-feira, abril 21, 2014

Fotografias de Abril

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Quem gosta de fotografia tem a memória cheia de oportunidades perdidas de fotografar um determinado acontecimento, uma profissão que já não existe, uma paisagem que foi destruída, um mundo que já é história. A minha geração foi privilegiada pelo curso dos acontecimentos, escapou à guerra, beneficiou de uma Europa reconstruída (e agora consideram inúteis aqueles que a reconstruiriam), percorreu dois séculos, assistiu ao 25 de Abril, à libertação de Nelson Mandela, à guerra do Vietname, à queda do muro de Berlim, ao desmoronar da URSS, à eleição de um afro-americano nos EUA, ouviu os Beatles, conheceu os grandes desenhadores de moda, viveu uma revolução permanente. Foi uma geração de conheceu dois mundos, o mundo moderno de hoje e o mundo da ceifa manual, da pesca dos bacalhoeiros e que foi capaz de transformar um no outro, pelo que se vê só falhou num pequeno ponto, não conseguiu impedir que a educação desse lugar aos idiotas que nos governam.

Quem não gostaria de ter tido sempre uma máquina fotográfica à mão, de preferência digital? Mas a verdade é que percorremos a vida e muitas vezes ficamos prisioneiros de memórias que com o tempo se tornam história. Quantos portugueses pegaram na máquina fotográfica no dia 25 de Abril. Para além das fotografias dos profissionais é raro ver fotografias de cidadãos anónimos, com uma visão diferente da do fotógrafo que pensa na primeira página do seu jornal, fotografias que nos falem dos sentimentos de quem as tira e não de quem nos quer dar uma suposta realidade que é notícia.

Uma fotografia com um soldado trazendo nos braços a figura de uma santa que estava na sede da PIDE/DGS do Porto dificilmente seria publicada ou mesmo produzida e tal essa muitas outras imagens estão perdidas nos arquivos pessoais. Aliás, ao fim de 40 anos muitos negativos e diapositivos já se deterioraram.
  
As fotografia aqui colocadas são de um amigo e visitante deste blogue, emigrante no Canadá, que há muito envia as suas imagens para publicação, como sucedeu com estas imagens de Abril de 1974. São imagens obtidas com rolo e depois digitalizadas, tiradas num tempo em que cada fotografia ficava cara e os rolos tinham um máximo de 36 fotogramas.  Um amador não dispõe dos recursos em equipamento, quantidade e arquivo e isso fica evidente nas imagens. Mas são imagens que dizem muito sobre aqueles dias, principalmente pelos sentimentos de quem estava dos dois lados da câmara fotográfica.

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Eu desfrutei cada uma das fotografias que compõem esta galeria privada, os rostos, as roupas, os olhares, as modas, a ingenuidade da época, os sonhos espelhados no homem que caminha com a bandeira portuguesa e levanta o punho.