Pela forma como Passos Coelho ou os seus correlegionários se referem a Portugal e aos portugueses fica-se com a sensação de que ou são estrangeiros ou nunca viveram no país ou à sua custa. Se não fosse a famosa declaração de Vítor Gaspar dizendo que estava no governo para pagar uma dívida com o país, seria resultado da influência desse grandioso economista que o país ficou a conhecer pelos sucessivos erros de previsão e pelas mentiras que engendrou para viabilizar a transformação do país num campo de testes. Mas em boa hora a dívida desse senhor foi saldada e parece que agora está pagando a dívida ao FMI.
Não sendo influência de um Gaspar cheio de complexos e meio estrangeirado subsiste a tese do rapazinho educado por alguém que vivia numa Suíça africana e quando foi devolvido pela história ao seu país descobriu que era um país muito sujo. Essa educação não deve ter sido das melhores para o jovem Pedro, se o pessoal das colónias já não tinha grande consideração pela Metrópole o regresso forçado foi um processo traumatizante como a história registou.
O certo é que o actual poder assume-se mais como uma equipa de gestores de uma empresa de capital de risco que comprou uma empresa falida do que como um governo escolhido por um parlamento eleito democraticamente. Passos Coelho não governa segundo um programa discutido e aprovado em eleições, é o filho do médico que acha que sente ter a tarefa de cuidar de um povo doente, é o jovem que encontrou um povo atrasado num país sujo, é o político que ainda que sem grandes recursos intelectuais se sente superior aos outros.
Passos Coelho não fala dos seus, fala dos outros e adoptou um discurso moralista cheio de culpas, de castigos, de sacrifícios. Passos Coelho não pergunta a ninguém o que deve fazer, acha que lhe cabe a tarefa de decidir quem deve empobrecer e quem deve enriquecer, quem pode ficar e quem deve emigrar, quem é útil e quem deve ser perseguido por ser inútil. Passos Coelho ganhou as eleições e parece considerar que esse facto não abona nada em favor dos portugueses, é por isso que está convencido que este ano atrasa a divulgação de algumas medidas e ganha as europeias e para o ano reduz o IRS à custa da eliminação dos benefícios fiscais e ganha as legislativas.
O debate político das alternativas deu lugar a um debate moralista, cheio de culpas e de castigos, em que quem governa são os bons e quem está na oposição são os maus, os do governo são honestos, rigorosos e cumpridores, os da oposição são bandalhos, despesistas e não gostam de pagar as suas contas. O ridículo deste discurso está no facto de até uma figura menor como Marco António, que devia estar na cadeia depois da forma como ajudou Menezes a gerir a autarquia de Gaia, vem agora dar lições de moral e dizer ao PS como se deve comportar.