No tempo em que em vez de serem os portugueses a fugirem a sete pés e haviam emigrantes interessados em cá viver surgiram problemas na recepção a esses emigrantes, sem emprego, sem dinheiro e sem casa muitos deles caíram na miséria, o que levou a que algumas organizações os apoiassem. Conheci o caso de uma associação caridosa que colocou uma emigrante do Leste a trabalhar como doméstica numa família fina de Lisboa. Uns tempos depois soube-se que não tinha horário, não recebia salário e em pleno inverno estava proibida de usar água quente no banho.
Esta situação não causa admiração se considerarmos que nos genes de muitas das nossas boas famílias estão os segmentos do colonialismo, do esclavagismo, do desprezo pela condição humana dos mais pobres, essa foi a história das nossas gloriosas classes dominantes cheias de santos, heróis, alas de namorados e outros actos de generosidade e heroísmo. Não admira, portanto, a forma miserável como os nossos empresários e políticos abordam a questão do aumento do salário mínimo.
Antes de mais estamos perante gente miserável e sem princípios pois há muito que a questão tinha sido alvo de um acordo e se ainda se discute é porque os empresários portugueses são pouco dados a cumprir os seus acordos, algo que abona muito pouco em favor dos seus próprios negócios. Bastaria compensar a inflação para que o salário mínimo tivesse sido aumentado sem que daí tivesse resultado qualquer impacto sobre a competitividade. Aliás, perante o aumento das exportações o argumento da competitividade não faz sentido. E basta ver os carros de luxo parados junto às empresas ou entrar num restaurante de luxo da capital para se perceber que este debate roça o miserável.
Os empresários diziam que havia acordo entre associações empresariais e sindicatos mas era o governo que se opunha. Agora já dizem estarem disponíveis para negociar, isto é, a troco do chouriço querem mais um porco, querem mais compensações na legislação laboral por aumento que já tinham acordado. Mas de quanto estamos falando, de um aumento de 25% do salário mínimo e, em consequência, de todos os salários? Não, estamos falando de 6 cêntimos por hora para aqueles que mesmo trabalhando são obrigados a viver na miséria e a prolongar essa miséria para as próximas gerações.
O debate do salário mínimo nada tem de problema económico, é uma questão de miséria humana e só mostra como os nossos empresários e políticos de direita não deixaram de ser os negreiros, os escravagistas e os colonialistas que foram os seus miseráveis antepassados.