Quis o destino que fosse Cavaco Silva e as suas decisões manhosas a fazer o que Álvaro Cunhal não conseguiu nos trinta e um anos que viveu em democracia (sem contar os que viveu na democracia checoslovaca) conduzir o país à beira de um governo de maioria de esquerda e agora que o culpado de todos os males eis que o país volta a viver sob o fantasma de Vasco Gonçalves cuja alma penada parece ter tomado conta do morto-vivo de Boliqueime.
Os últimos dias têm sido quase hilariantes, até o pobre Passos Coelho já reparou na figura que tem feito e acabou por ter o seu momento de Calimero, queixando-se de que António Costa le tinha roubado o protagonismo da vitória. Pobre Passos Coelho, só o Cavaco Silva é que lhe deu a atenção devida a quem teve uma grande vitória eleitoral e mesmo esse parece ter-se arrependido e apressou-se a chamar o Costa a Belém com quem se reuniu quase duas horas.
Até o insuspeito Financial Times em vez de entrevistar o vencedor preferiu ouvir o entrevistado dizer o que ia fazer, os circunspectos embaixadores da Europa reuniram com António Costa, Passos tem razão, ele ganhou as eleições, mas a verdade é que os jornalistas nem lhe perguntaram como o conseguiu, o mais procurado pelos jornalistas é o marketeiro brasileiro que não se cansa de dizer que o vencedor foi ele.
As únicas palmadinhas nas costas de Passos Coelho vieram dos mercados, as acções do BCP e do “ai aguentam, aguentam” caíram, a proletária de serviço do Balsemão apressou-se a ouvir o analista de mercados e deu a notícia, os mercados estão em pânico, a bolsa vai cair e os juros da dívida subir com a perspectiva de um governo inspirado em Álvaro Cunhal. Mas no dia seguinte as acções voltaram ao norma, desde o Mercado da Ribeira ao de Alvalade tudo se manteve calmo, as couves não murcharam e os preços dos melões mantiveram-se inalterados.
Até Teodora Cardoso decidiu aparecer nas televisões em plena hora de jantar, uma preciosa ajuda a todas as mãezinhas que estavam com dificuldades em convencer as crianças para comerem a sopa de beldroegas. A senhora que chegou a acabar que lhe cabia dar visto prévio aos programas eleitorais dos partidos veio esclarecer-nos sobre a tramitação orçamental e em particular o cumprimento das nossas obrigações em Bruxelas. Se não fosse a incansável Teodora o que seria de nós.
Já faltou mais para que Paulo Portas que, segundo o Público, chegou a andar em “aventuras nocturnas pelo património do Estado na capital” para encontrar a sede digna de um vice-primeiro-ministro de gostos requintados, encomend eaos Urbanos uma dúzia de camiões para transportar as fotocópias do seu reinado para memória futura, caso alguém o queira mandar afundar-se para junto dos seus submarinos. Porque este Paulo Portas não tem nada de parvo, sempre que vai tomar banho sabe onde deixa a roupa, se quando era ministro dos Negócios Estrangeiros já andava em “viagens semiclandestinas por Lisboa”, não admira que agora aproveite todos os intervalos das reuniões enfadonhas com António Costa para empacotar as fotocópias dos arquivos do Estado.
Com tantas cópias para fazer e com as restrições orçamentais não seria má ideia o Passos Coelho organizar um peditório nacional para ajudar o seu vice a pagar as muitas resmas de fotocópias que vai fazer!.