quarta-feira, outubro 21, 2015

Umas no cravo e outras na ferradura


  
 Jumento do dia
    
Passos Coelho, ministro da informação de Saddam?

Passos Coelho ainda não aceitou a derrota que foi não poder contar com uma maioria parlamentar e está em estado de negação, fazendo lembrar o antigo ministro da informação de Saddam Hussein. Fala como se fosse formar governo e ainda contasse com a maioria absoluta, está convencido de que António Costa é mais um dos irrevogáveis que costuma assustar ou comprar a troco de mordomias governamentais.

Andaram a atacar Costa dizendo que só se queria salvar e brevemente vamos assistir ao espectáculo triste da crucificação de Passos Coelho, com Portas a assistir com o seu sorriso crítico enquanto a Critas vai fazer de carpideira.

«Pedro Passos Coelho defendeu esta terça-feira à tarde que é ao PSD que cabe "naturalmente constituir governo" (e repetiu cinco vezes a expressão "naturalmente"), depois de uma delegação social-democrata ter sido recebida pelo Presidente da República, em Belém, no âmbito da audição dos partidos sobre os resultados eleitorais e o próximo governo.

Para o presidente do PSD, "é muito importante que este mandato possa ser exercido em condições de previsibilidade e estabilidade", agitando logo depois com os perigos da instabilidade. "Se o país não tiver condições de previsibilidade e estabilidade", antecipou, "haverá um adiamento do investimento", "seja de investidores nacionais ou internacionais", concretizou. Para além da "posição externa [do país], que ganhou credibilidade, e podia ser colocada em causa". E Passos insistiu no aviso de que "os sacrifícios" dos portugueses podem ser postos em causa com outra solução.» [DN]

 A direita tem o que merece


A direita ganhou as eleições, a direita tem do seu lado o actual Presidente da República, a direita considera-se a si própria mais rigorosa e competente, a esquerda nunca se conseguiu unir, por isso Passos Coelho não se cansou de dizer que o natural era ser ele o primeiro-ministro mesmo sabendo que a sua vitória eleitoral não correspondeu a uma vitória política. Mas habituado à moleza do antecessor de Costa no PS e à facilidade com que põe Portas na linha ou com que este se deixa vender, Passos Coelho achou que isto eram favas contadas.
  
Cavaco “indigitou” Passos Coelho para encontrar uma solução política estável e este em vez de tomar a iniciativa optou por arrastar os pés e quando reuniu com o PS foi mais por iniciativa de António Costa do que para cumprir a agenda que Cavaco lhe encomendou. Passos estava convencido que tinha Costa na mão e não admira que nos primeiros dias a comunicação dava a uma grande novidade, em troca do apoio do PS a direita daria a Ferro Rodrigues o cargo de presidente da AR. O mesmo PSD que não tinha conseguido eleger Fernando Nobre teve agora uma crise de generosidade e oferecia um cargo que dependia de uma maioria parlamentar, foi mais ou menos a mesma generosidade com que Portas oferecia a António Costa o seu lugar de número dois de um governo, quando o líder do CDS já tinha percebido que iria ser o ministro zero de um governo saído das eleições.
  
A direita anda vai quatro anos a usar o consenso como estratégia de manipulação e condicionamento do PS, tem sido sempre o mesmo, Cavaco exige consenso, o PSD concorda e depois não oferece nada, espera que o PS aceite tudo incondicionalmente. Desta vez Cavaco Silva foi muito mais longe acabando por cometer um erro de grande gravidade, ao retirar os direitos políticos aos deputados que representam 20% dos portugueses acabou por encostar o PCP à parede. A direita teve mais olhos do que barriga, foi manhosa, negociou de má fé e acabou confrontada com uma realidade que pretendia negar, as maiorias não são feitas num mini parlamento onde só contam alguns partidos.
  
O PCP e o BE foram contra o Euro ou não partilham da mesma alegria em relação ao projecto europeu? Isso é verdade, da mesma forma que também é verdade que o CDS votou contra a Constituição da República e isso não o impediu de participar em vários governos. E de certeza que Paulo Portas sempre foi um fervoroso adepto do euro e da integração europeia?
  

A direita governou de forma impiedosa, os instrumentos de política económica foram usados para castigar e torturar os grupos sociais e profissionais que Passos e Portas consideram estar a mais no país, demonstrou um total desprezo pelos reformados, pelos funcionários do Estado e pelos jovens desempregados. A direita assaltou tudo quanto era cargo do Estado e mesmo nestes dias em que dizia que o natural era continuar a governar os seus assessores debandaram me direcção aos cargos ainda vagos no Estado. 
  
 O Apocalipse

Com um governo de António Costa:

  • É interrompido o jorrar do investimento estrangeiro.
  • Portugal vai deixar de ser o país mais competitivo do mundo.
  • Os jovens que estavam de regresso ao país vão voltar a partir.
  • Os que morreram nas urgências e entretanto ressuscitaram vão voltar a morrer.
  • A dívida portuguesa vai voltar a ser lixo.
  • Os cofres voltam a ficar vazios.

 Bartoon

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 Vaga de casuais invade Belém

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Parece que não é no futebol que se registam as invasões de "casuais", Belém está a ser vítima de invasões de "casuais", desta vez de conselheiros do presidente.

 Os mercados gozam com a Maria Luís
  
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É sinal de de estiveram atentos à sua entrevista e às suas ameaças de Apocalipse.
  
 Coisas que não percebo

Porque é que O Jumento tem tantos visitantes vindos da Roménia?

 Um mau observador

Ontem:

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Hoje:

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 A alegria da vitória

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A alegria da vitória espelhada no rosto dos responsáveis do PSD, hoje à saída da udiência com Cavaco Silva.

 A alegria de receber a Catarina espelhada na cara de Cavaco

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 O Governo entre Bruno de Carvalho e Jorge Miranda
   
«A conversa política entre nós não consegue ser moderada e razoável por motivos que o futebol televisivo explica melhor. O futebol telefalado salta (salta, de extremo a extremo) do diálogo Bruno de Carvalho-Pedro Guerra, tipo "vai tu!", para a linguagem esotérica do comentador da "carência tático-técnica em situação de um para um" (o jogador perdeu a bola). Não sei se a maior vítima da crise financeira são as classes médias, mas que o futebol é comentado por extremos - ou por pregões de peixeiras ou por nietzschianos encartados - não tenho a menor das dúvidas. Assim também é com a política, lerpam os cidadãos com bom senso. Daí termos ficado estupefactos com os resultados eleitorais - não admira, chegámos a eles por baixo ("aquilo é tudo uma cambada") ou por cima ("como diz a douta tese do professor Jorge Miranda")... Broeiros ou constitucionalistas, nada no meio, eis a nossa condição. Ora nós estamos a falar de uma coisa complexa mas não necessariamente complicada que é a formação dum governo. Tivéssemos nós, não o desprezo dos brutos nem a arrogância dos snobes, mas a ciência dos comuns, saberíamos que nos acontece, tão-só, uma história de homens, de poder e de poderes. Ontem, o líder do PSD ofereceu publicamente um cargo governativo a António Costa, com o acinte e a normalidade que isso significa. Se até Passos Coelho percebe o negócio (negação de ócio) que tudo isto é, não há razão para também nós não percebermos.» [DN]
   
Autor:

Ferreira Fernandes.

 A direita está triste porque acabou o apartheid
   
«As últimas duas semanas têm sido ocupadas com uma indecorosa tentativa de linchagem de António Costa por parte da direita (dos partidos da direita, dos representantes da direita no interior do PS, dos comentadores da direita, dos jornalistas da direita, dos “sindicalistas” da direita, dos patrões da direita) por fazer aquilo que não só é absolutamente legítimo que faça, como aquilo que qualquer dirigente partidário responsável faria no seu lugar, independentemente da posição dos vários actores políticos.

Infelizmente, a cultura democrática e o respeito pelo estado de direito tornaram-se tão ténues na direita portuguesa (de má memória, é verdade) que é necessário lembrar algumas noções básicas quanto a direitos e liberdades e quanto à Constituição para pôr um mínimo de ordem no galinheiro.

Não deveria ser necessário dizer isto, mas aqui vai: é absolutamente legítimo que António Costa e a direcção do PS falem com quem muito bem entendam e reúnam com quem quiserem. É uma das características da democracia, por muito que isso custe a Nuno Melo.

Não, em Portugal não há apartheid e o Bloco de Esquerda e o PCP não são organizações criminosas, por muito que isso custe aos opinadores do Observador, e não é um crime falar com eles. São partidos com a mesma legitimidade (repito, para os mais duros de ouvido: a mesma) que os partidos da direita. Os seus militantes e dirigentes são cidadãos de pleno direito, como os dos partidos da direita. Os seus votantes são cidadãos de pleno direito, como os dos partidos de direita. Os seus deputados são deputados de pleno direito, como os dos partidos de direita. E um voto na esquerda vale um voto, tal como um voto na direita.

É verdade que a direita gosta de pensar que os seus partidos, os seus dirigentes, os seus votantes e os seus deputados possuem mais direitos que os de esquerda, mas isso é apenas um sonho, uma aspiração (ilegítima, esta). O uso da expressão “Arco da Governação” é um dos reflexos dessa presunção supremacista. É verdade que têm mais privilégios na sociedade, que são mais bem tratados pelos media e bajulados pelos restantes poderes, que encontram maiores facilidades em promover as suas mensagens políticas e também em encontrar empregos mais bem remunerados, mas isso não são direitos: são privilégios indevidos e entorses à democracia, que se baseia na igualdade de todos os cidadãos perante a lei.

É evidente que se pode criticar a acção de António Costa e argumentar contra os seus pontos de vista, considerar que um Governo de esquerda será um perigo para o país, questionar a solidez de um acordo à esquerda, etc. O que não se pode é dizer que as conversações do PS com o BE e o PCP são “um golpe de Estado” ou “uma usurpação”, porque isso corresponde a negar à esquerda um direito que se confere à direita... e, isso, sim, já se parece mais com um golpe de Estado, já que vai frontalmente contra a nossa ordem constitucional, além de ir contra a própria filosofia do direito e os princípios básicos da ética.

(Tenho uma curiosidade: se, para Manuela Ferreira Leite, “António Costa está a fazer um verdadeiro golpe de Estado”, o que lhe chamaria se ele fizesse, de facto, um Governo com as restantes forças de esquerda? Um genocídio?... E o que diria Ferreira Leite se Costa defendesse uma suspensão da democracia durante seis meses? “Não tem o direito de dizer isso. Isso é só para o PSD”?)

Mas António Costa não tem apenas o direito de se reunir e negociar com quem bem entender. Costa, como dirigente de um dos dois maiores partidos portugueses, tem o dever de o fazer. E tem o dever de o fazer porque, como disse e repetiu durante a campanha, o PS não irá viabilizar um Governo PSD-CDS e, se impedir a formação desse Governo no Parlamento, tem o dever de tentar construir e apresentar uma solução alternativa. E, com os actuais resultados eleitorais, uma solução alternativa passa, necessariamente, pelo BE e pelo PCP. É, aliás, fácil de adivinhar que, se Costa ficasse fechado no Rato a repetir que não iria viabilizar um Governo PSD-CDS, a direita se levantaria em peso criticando o facto de o PS “não se preocupar em construir uma alternativa”.

É curioso que os briosos defensores da democracia que se alevantam contra o facto de Costa falar com intocáveis, ainda não perceberam – ou perceberam mas não aceitam – que os governos se fazem e desfazem no Parlamento e reagem com urticária à possibilidade de um Governo ser viabilizado por mais de 50% dos deputados se esses 50% forem os 50% “errados”. Mas isso é a democracia.

Na campanha, foi dito e reiterado pelo PS que não se aliaria à direita, mas a direita quer precisamente isso e acha que o PS tem toda a legitimidade política para o fazer. Mas acha que o PS não tem legitimidade para se aliar à esquerda, sobre a qual o PS não deu nenhuma garantia semelhante. A existência de dois pesos e duas medidas na direita portuguesa é por de mais gritante e essa é uma das razões por que precisamos mesmo de correr com esta gente do poder.» [Público]
   
Autor:

José Vítor Malheiros.