O Presidente da República pediu e algumas personalidades já fizeram referência a esse apelo, mas a verdade é que a presente campanha é uma das mais sujas de que Portugal tem memória. Mas antes de falarmos sobre campanhas sujas é importante entender o que isso é.
É comum considerar que os ataques à dignidade pessoal dos políticos é uma campanha suja, ainda que depois se meta no mesmo saco a necessidade de esclarecer dúvidas legítimas sobre o comportamento ético dos candidatos com o mero atirar de lama aos adversários.
Um exemplo, o mesmo PSD que quando se sentiu em vantagem nas sondagens se armou em poupador de dinheiro e decidiu não colocar outdoors, nas eleições em que o líder era Pedro Santana Lopes mandou a JSD colocar outdoors em que se faziam insinuações sobre a orientação sexual de Sócrates, dando forma a uma campanha de calúnias que há muito tinha sido promovida via internet.
Mas estas são campanhas obviamente sujas e nem sempre resultam, aliás, mesmo quando há dúvidas legítimas como as relativas aos negócios da família de Cavaco Silva há o risco de serem entendidas como campanha suja e terem poucos resultados. As campanhas mais sujas não são necessariamente aquelas em que se chama gay a um candidato que não o é, as campanhas mais sujas são as que recorrem à mentira e à manipulação da opinião dos eleitores.
Vejamos o exemplo das sondagens, é mais do que óbvio que as variações nos resultados das sondagens da Intercampus suscitam muitas dúvidas, variações tão abruptas sem grandes factos que as justifiquem só se explicariam se uma boa parte dos portugueses andasse alcoolizada. Hoje ninguém tem dúvidas de que a sondagem que dava mais de 60% a Cavaco Silva era uma manipulação, da mesma forma que no passado temos muitos outros exemplos. É evidente que a empresa de sondagens pode sempre dizer que as premissas foram erradas, que se distribuiu mal o voto dos indecisos, que ocorreram erros na selecção da amostra, etc., mas o facto é nem isso chega a suceder. Como explicar então que alguns órgãos de comunicação social partidariamente alinhados façam sempre o mesmo tipo de sondagens, encomendadas às mesmas empresas e cometendo sempre os mesmos erros conveniente? E como explicar que outros órgãos de comunicação social as divulguem igualmente sob a forma de notícia segura?
Outro bom exemplo de campanha suja foi-nos dado há dois dias pelo PSD, o seu líder centrou a atenção da comunicação social denunciando supostas nomeações de boys que foram metidas na gaveta para saírem já com o novo governo. Durante um dia foi a notícia de primeira página e de abertura dos telejornais. No dia seguinte Pedro Passos Coelho anunciou cedo que iria apresentar as provas e a notícia voltou a ocupar a comunicação social. Ao fim do dia Miguel Relvas apresentou as supostas provas e a notícia voltou a ocupar a comunicação social. Lendo as provas conclui-se que se estava perante uma mentira, um ex-secretário de Estado como Relvas tinha de o saber, os assessores de Passos Coelho certamente que o sabiam, mas a mentira foi usada. Os desmentidos pouco espaço tiveram e nenhum jornalista se deu ao trabalho de avaliar as supostas provas. Isto não é sujo? A verdade é que muitos eleitores foram enganados com um esquema montado por gente que tem pouca consideração pela democracia e trata o país como se fosse o Burkina Faso. O mais grave é que muitos dos nossos jornalistas não seriam aceites como tal no mesmo Burkina Faso.
Esta é uma campanha de manipulações, de mentiras, de falta de escrúpulos que levam a comparações de um primeiro-ministro ao Hitler, ao Drácula e a Saddam, sem que os jornalistas desmontem as mentiras evidentes ou que os “senadores” como Marcelo critiquem os golpes baixos que são dados diariamente.