terça-feira, maio 24, 2011

O acelerador de mentiras (e a jornalista forcado)



O CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear) construiu recentemente o maior acelerador de partículas, o LHC (Large Hadron Collider). Cujo principal objectivo é obter dados sobre colisões de feixes de partículas.

Parece que Pedro Passos Coelho não quer que Portugal fique atrás e criou o AM, o Acelerador de Mentiras, vulgarmente conhecido por Miguel Relvas. O divertido secretário-geral do PSD, homem dado à cozinha e segundo o Correio da Manhã especializado em doçarias com as marketeiras que vai buscar ao Brasil ficou conhecido como o acelerador ao admitir em tribunal na semana passada que acelerou uns processos em nome do interesse nacional. Pois, eu também trabalho todos os dias para que em nome do interesse nacional possa receber o meu vencimento no fim do mês.

Mas com este caso infeliz das supostas nomeações metidas na gaveta para ludibriar os próximos governantes, que segundo Miguel Relvas deverão ser uns idiotas chapados nomeados por Passos Coelho percebe-se que a grande função do secretário-geral do PSD é a de acelerador de mentiras.

Esta crise política começou com uma mentira propalada por Miguel Relvas, foi o secretário-geral o primeiro a dizer que Passos Coelho tinha tido conhecimento do PEC IV por um telefonema, informação que depois Passos Coelho confirmou. Isto é, eles combinam a mentira e depois é o acelera, o acelerador de mentiras, que as espalha pela comunicação social.

Desta vez foi mais uma vez o acelerador de mentiras que fez o trabalho sujo, ainda que Passos Coelho tenha achado esta mentira um petisco, optando por ser ele a anunciá-la, cabendo ao acelerador de mentiras a divulgação das provas. E o que provam as provas apresentadas pelo acelerador de mentiras? Provam precisamente que ele é mentiroso.

Poder-se-ia pensar que a linguagem burocrática é hermética e que os emails apresentados pelo acelerador de mentiras provam o que ele disse. Mas não, nem a linguagem é hermética, nem os emails suscitam dúvidas.

A publicação de nomeações foi rejeitada porque quando chegaram à Imprensa Nacional já existiam instruções para que não fossem publicadas nomeações. O tal email que prova que as nomeações ficaram na gaveta até depois das eleições dizem precisamente o contrário, que o procedimento da publicação e não a publicação deve ser iniciado depois de o próximo governo tomar posse. Ora, para se mandar uma nomeação tem de existir um despacho e esse despacho terá de ser emitido na ocasião.

Que o PSD queira fazer os outros passarem por mentirosos é coisa a que já estamos habituados, mas que o faça recorrendo à mentira já eé demais. E se o fizer recorrendo a uma mentira evidente então são mesmo maus mentirosos, enfim, até como mentirosos são incompetentes.

PS: A TOURADA QUE FICOU A MEIO
 

 
(via CC)

Quis o destino que as imagens da reportagem de campanha de Passos Coelho fossem substituídas pelas de uma tourada enquanto o apresentador ainda falava sobre a notícia anterior, digamos que passou de uma tourada para a outras mas perderam-se as imagens reais da primeira, em vez do Relvas e da jornalista da TVI apareceu um touro de verdade e um forcado amador.
 
Se em vez do touro a dar a marrada fosse o número dois do PS a empurrar a agredir a jornalista certamente que a tourada a aparecer seria outra e teria sido o "ai Jesus!" da asfixia democrática, mas a obediência das televisões e dos jornalistas ao poder desejado é tanta que até já admitem ser agredidos. Não me admiraria se no contrato dos jornalistas da TVI existisse uma claúsula de aceitação de marradas de toruros apoiados pela estação.
 
Nesta reportagem salva-se a subtilieza de quem na TVI não se submeteu totalmente à censura e continuou a comentar inserindo imagens de uma garraiada promovida pelo PSD, dando a entender de forma subliminar que a seguir alguém foi colhido por um touro. Isto é, voltámos ao tempo da outra senhora quando para fazer chegar a mensagem aos portugueses tinha-se de ter imaginação para ludibriar os censores.
 
Aqui fica o desafio, as televisões que passem as imagens que se seguiram à passagem para a outra tourada.