quarta-feira, maio 04, 2011

Pior era impossível

Uma boa parte da direita portuguesa desejava a vinda do FMI, não escondia esse desejo nem escondia que via no FMI mais uma preciosa ajuda eleitoral do que uma ajuda financeira ao país. A oportunidade para fazer o país soçobrar surgiu com o PEC IV e por mais evidente que fosse a conveniência da sua votação não resistiram à tentação de derrubar o governo e com ele Portugal. Um dia saberemos se a iniciativa foi da São Caetano à Lapa, de Belém, o certo é que não havia gente do lado de Passos Coelho e de Cavaco Silva a defender abertamente a vinda do FMI e, depois, do chumbo do PEC IV.

Se o desejo de forçar Sócrates a um pedido de ajuda internacional traduzia uma preocupação para com o país o lógico seria vê-los depois a defender os interesses do país. Depois do falhanço das intervenções na Grécia e na Irlanda e apesar de nas organizações internacionais já haver consciência desse falhanço, seria de esperar que todos se empenhassem em defender o país, que apresentassem propostas de soluções, que procurassem as melhores medidas na perspectiva do interesse dos portugueses. Mas não, optaram por tentar dar aos negociadores estrangeiros a pior imagem possível do país tentando induzi-los a adoptar medidas ainda mais duras.

Se Paulo Portas optou por uma postura responsável já o mesmo não se pode dizer de Pedro Passos Coelho que em vez de se fazer acompanhar neste processo do seu vice-presidente Nogueira Leite optou por escolher o professor catedrático a tempo parcial 0% Eduardo Catroga, uma personagem que alguém foi buscar não se sabe bem onde e que cai de pára-quedas no meio desta liderança do PSD para negociar com a troika e pior do que isso, conduzir uma estratégia suja contra o governo e contra o país. Aliás, o jovem Passos Coelho que se apresentava como o representante de uma nova geração de políticos mais parecia o guarda do parque jurássico, soltando dinossauros como Eduardo catroga, Diogo Leite Campos e outros.

Ao mesmo tempo que Passos Coelho se ia afundando entre farófias, jingles musicais carrapatetices, Catroga ia lançando dúvidas sobre o país, como se estivesse num país africano cujas contas são feitas em resmas de papel almaço. Em vez de fazer propostas em defesa do país Eduardo Catroga tudo fez para lançar nos membros da troika a desconfiança em relação às instituições nacionais, em vez de apresentar soluções optou por tentar usar a troika num jogo político de baixo nível. Deu uma triste figura de si e do país, o que terão pensado os negociadores estrangeiros ao ver alguém pedir o pior para o seu paia ao mesmo tempo que os tentava manipular com manobras infantis?

Passos Coelho conseguiu chumbar o PEC IV e certamente vai aprovar o acordo com as instituições internacionais sem que tenha apresentado uma única proposta, sem ter defendido uma única alternativa e sem ter manifestado a mais pequena preocupação com o que estaria a ser negociado, nunca disse nem o que queria nem o que não queria. A sua espera pelo acordo nada tinha que ver com o impacto no país mas sim nas sondagens eleitorais que diariamente recebe.

A comunicação de Sócrates ao país foi a maior humilhação que Pedro Passos Coelho poderia ter sofrido, a troika autorizou José Sócrates a fazer uma comunicação antes de um acordo com o PSD e em que o primeiro-ministro em vez de comunicar o conteúdo do acordo informou e tranquilizou o país afastando o cenário negro que estava a ser criado pela comunicação social. Foi uma comunicação inédita nestes processos negociais, antes da divulgação do acordo e quando se sabe que se está a meio de um processo eleitoral, um governo é autorizado a dizer aos concidadãos o que não fará parte do acordo. Pior do que isso, deixou no ar que o acordo com as organizações internacionais é o PEC IV e mais algumas medidas.

A não ser que existam grandes surpresas ficaremos com a impressão de que a troika veio a Portugal para fazer aprovar o PEC IV, os mesmo que foi rejeitado por Passos Coelho, que num dia o rejeitou por ser austeridade a mais e no dia seguinte por ter austeridade a menos. Passos Coelho apostou tudo no FMI e arrisca-se a ser a sua principal vítima.