Quando um jovem leão consegue expulsar o leão dominante logo de seguida mata as crias destes, desta forma acelera o cio nas leoas e assegura a continuidade dos seus genes. Em Portugal sucede mais ou menos o mesmo nalgumas empresas, no Estado ou nos governos, os recém vencedores começam por desfazer o trabalho dos antecessores, os governos poem fim aos projectos dos antecessores, os novos chefes abandonam o trabalho que está a meio. A melhor forma de anunciar um país novo é destruindo o velho, é uma solução recorrente dos países comunistas, Pol Pot levou a tese a extremos e decidiu matar o povo para que dos seus cadáveres surgisse um novo povo.
Pedro Passos Coelho tem-nos dado muitos exemplos deste comportamento, é o que está a fazer com as Novas Oportunidades. Há algum tempo perguntava a uma empregada de um café onde habitualmente tomo a bica como tinha passado o fim de semana, respondeu-me que a estudar porque estava nas Novas Oportunidades, estava toda contente por ter voltado a estudar. O mesmo sucedeu com outras pessoas e muitas outras teriam aderido se existissem cursos. Apenas conheço o programa pelos testemunhos de quem por lá passou ou de empresários que vieram a público elogiá-lo. Sei agora que até tem uma auditoria externa da responsabilidade da Universidade Católica e conduzida por Roberto Carneiro. Ao que parece o líder do PSD também só o soube ao mesmo tempo que eu, depois de a ter exigido para insinuar que era uma total bandalhice. Outros exemplos desta estratégia idiota foi a tentativa de suspensão da avaliação dos professores, a suspensão do novo Código Contributivo, os ataques ao encerramento de escolas sem condições ou de centros de saúde inúteis.
Quem aderiu às Novas Oportunidades são pessoas que, por exemplo, abandonaram a escola no 7.º ou 8.º ano e agora pretendem concluir o 9.º, muitas vezes nem esperam mudar de emprego, ainda que a melhoria da situação profissional esteja certamente no seu horizonte, situação ainda mais frequente quando são empregados de empresas que promoveram o programa. Muitas vezes fazem-no por orgulho próprio, para darem o exemplo aos filhos e ainda não conheci ninguém que tenha aderido em função de eventuais facilitismos.
Da mesma forma que se recusa a qualquer negociação com Sócrates como se fosse o diabo, quando se sabe que foi o líder do PSD que se portou mal quando discutiu o PEC IV, o líder do PSD considera que tudo o que Sócrates fez foi mal feito e é para destruir ou, quando percebe que há muitas opiniões positivas, para rever, parece que um seu governo dedicaria uma boa parte do esforço ao exorcismo socrático. Tudo parece ter sido mal feito e é a sua equipa de assessores estarolas que vai endireitar o país.
Esta é uma postura criminosa, num país na situação difícil em que está Portugal, os governos não devem servir para exorcismos e os políticos devem ter a coragem de reconhecer o que está bem feito, nada os impedindo de melhorar. Mas destruir, não!
É por estas e por outras que não confio em Pedro Passos Coelho nem vejo nele as qualidades exigidas para governar um país e muito menos quando esse país enfrenta uma crise internacional e se encontra fragilizado por uma crise financeira interna que foi agravada pela irresponsabilidade de políticos gulosos. Um político incapaz de reconhecer uma única obra positiva do seu adversário é um político cego, incapaz de perceber que acima das suas ambições pessoais, dos negócios que fez com os lóbis que o apoiam, da fome de tacho dos seus assessores, está o interesse do país.