Não admira que tenha sido Cavaco Silva a primeira personalidade a vir em apoio da redução da TSU agora que o que consta do acordo ganhou forma de proposta do PSD, afinal, depois de esquecidos os Mais Esperança, de arquivado o projecto de revisão constitucional e de apagadas as patetices avulso propostas por Passos Coelho o programa eleitoral foi elaborado pelo catedrático a tempo parcial 0% Eduardo Catroga cuja presença com o estatuto de regente foi o preço a pagar pelo líder do PSD pelos apoios que tem recebido de Belém e que decidiu plagiar o acordo.
Eduardo Catroga propõe uma redução significativa das receitas da Segurança Social e teve de ser Cavaco Silva a sugerir a necessária compensação porque tinha sido ignorada no programa eleitoral, propôs um aumento dos impostos sobre o consumo. O problema é que aumentar o IVA é impopular e agora ninguém sabe muito bem o que fazer, uns dizem que deve ser a cerveja a penalizada, outros preferem o vinho e alguém já se lembrou da Coca-Cola. No fim ainda vão descobrir que a solução está na ginjinha.
Poderiam ter sugerido combater a evasão e transferir os resultados para a redução da TSU, poderiam ter proposto um aumento dos impostos sobre o imobiliário de luxo, poderiam ter avançado com um aumento do imposto sobre os carros de grande cilindrada, mas não, optaram por penalizar os mais pobres e os menos ricos. E foi precisamente quem disse que havia limites para a austeridade aplicada aos mais pobres que agora defende um aumento dos impostos sobe o consumo, que o seu representante Eduardo Catroga converte na aplicação da taxa normal do IVA a produtos até agora sujeitos à taxa reduzida.
É defensável a redução da TSU mas fazê-lo, como defende Cavaco Silva, penalizando o consumo, não só pode ter os efeitos perversos de reduzir o consumo e não serem geradas as receitas esperadas ou ainda de penalizar as empresas com a redução do consumo, como equivale a retirar da poupança para dar aos patrões sem garantias de que estes aumentam o investimento. Do ponto de vista do investimento faz mais sentido que essas poupanças sejam confiadas ao sistema bancário e financiem quem investe através da banca, reduz a dependência externa dos bancos, beneficia-se quem poupa e faz-se chegar o dinheiro a quem investe. A solução sugerida por Cavaco Silva no seu momento de campanha a favor do PSD não passa de uma solução oportunista, retira-se dos mais pobres para entregar aos mais ricos, tanto recebendo o empresário que pretende investir como aquele que tenciona deslocalizar a sua empresa daqui a uns tempos. Além disso, é uma medida que vem na linha da nossa direita, liberal quando está em causa atacar os mais pobres, intervencionista quando pretende ajudar os mais ricos a ficarem mais ricos.
A solução proposta por Cavaco Silva não é mais do que ele fez nos seus governos, regar os mais ricos com dinheiro sem cuidar da eficácia na sua utilização, foi o que fez com o investimento público, foi o mesmo que fez com os dinheiros comunitários. Só que já não há margem para aumentar o endividamento e os fundos comunitários já se esgotaram, e Cavaco Silva não tem o mais pequeno pudor em propor este intervencionismo oportunista tirando aos pobres para enriquecer ao mais ricos.