Depois de estar na oposição durante seis anos a direita apresenta-se com programas eleitorais acabados de pintar de fresco em vésperas de campanha eleitoral, isto é, durante seis anos não reflectiu sobre os diversos dossiers, não estruturou projectos, não ouviu as populações, nada, reuniram-se agora à pressa para ganharem eleições com programas feitos à pressa.
A assinatura recente de um acordo com o FMI não serve de argumento, um programa de governo vai muito para além das matérias abrangidas por aquele acordo. O que sucedeu com o programa eleitoral do PSD para a educação é inaceitável, Passos Coelho deu cobertura a todas as reivindicações corporativas do sector, insinuou que todos os relatórios que apresentavam indicadores positivos ou eram manipulados ou encomendados, criticou cinicamente tudo o que se fez, já em plena campanha insinuou que o investimento nas escolas é um luxo. Depois de uma oposição sistemática à política governamental para a educação seria de esperar que tinha uma alternativa, que sabia o que queria, que tinha ideias sólidas, mas não, de um minuto para o outro disse que o programa para a Educação era para melhorar, isto é, estava mal.
Outro bom exemplo é-nos dado por Paulo Portas, durante anos usou o rendimento mínimo e a questão da segurança como as principais bandeiras, agora esqueceu-as totalmente e aparece a defender o combate à evasão fiscal, um domínio onde sempre se opôs a medidas sérias.
Esta direita que tanto criticou o governo por supostamente não ter feito o trabalho de casa, argumento de que depressa se esqueceu quando o seu modelo de virtudes, a República da Irlanda, se desmoronou, esqueceu-se de fazer o seu próprio trabalho de casa durante seis anos e apresenta-se a eleições com programas encomendados ou feitos à pressa, chega ao ridículo de participar em debates televisivos sem programa ou com a versão beta do programa.
Como pode esta direita criticar um governo quando fez da oposição um longo período de gandulice como se viu em numerosos debates parlamentares? Portas gosta muito de exibir o seu trabalho parlamentar mas agora percebeu-se que para o líder do CDS o trabalho parlamentar é como ir a um ginásio, serve para manter a linha. Se assim não fosse depois de tão bom trabalho teria um projecto e não precisava de se apresentar num debate televisivo apenas para discutir as ideias dos outros.
Percebe-se agora que quando a direita criticou as políticas governamentais fê-lo apenas com o objectivo de criar dificuldades e nunca se preocupou em defender uma alternativa. Isso ficou evidente quando o governo não teve maioria absoluta no parlamento, em vez de ter ideias limitou-se a boicotar, suspendeu sucessivamente os diplomas governamentais e a sua última intervenção foi para pôr o ensino de pernas para o ar suspendendo a avaliação dos professores, agora sabe-se que o PSD não tem ideias sobre a matéria e que o capítulo da educação do seu programa foi suspenso devido às críticas de um único professor.
Uma direita que se comporta de forma tão oportunista e irresponsável não só não está à altura de governar como não merece a confiança dos portugueses para governar. Aliás, nem para fazer oposição foi competente pois optou sempre por golpes baixos para derrubar o governo. Temos uma direita tão rasca que nem hesitou em se coligar à esquerda conservadora, ao seu grande inimigo ideológico, para impedir que Portugal fosse governado. Esta direita não presta para governar como também não prestou para fazer oposição, mas do mal o menos, provoca menos prejuízos ao país fazendo má oposição do que governando com incompetência como, aliás, o fez da última vez que esteve no poder.