Esta coisa de estar indeciso provoca um sofrimento que poucos entendem, não me admiraria nada que o registo de entradas de cardíacos nas urgências se registe um pico devido aos fanicos sofridos pelos indecisos, e se a indecisão provocasse a gripe das aves lá se ia o precioso stock de Tamiflu.
Ser indeciso faz-nos sentir como se fossemos perdizes de capoeira largadas numa reserva turística na madrugada do dia de abertura da caça. Para onde quer que um pobre indeciso se vire leva com um tiro e o pior de tudo é que uma boa parte dos tiros são de pólvora seca e outros acertam ao lado, o pobre do indeciso foge esbaforido de um lado para o outro. O início da campanha eleitoral não é mais do que a abertura da época de caça ao indeciso, ou assim deveria ser pois anda por aí uns armados em caçadores clandestinos, tentando roubar a caça na coutada dos outros, é o caso do Portas e do Passos que andam a espantar a caça nos seus próprios coutos.
Imagine-se um indeciso que está tentado a votar Sócrates mas depois lê a Flash e dá de caras com a esposa do Coelho, fica logo a pensar que um tem gaja e outro vai tendo uma de vez em quando, mas se equacionar a hipótese do Portas fica baralhado, de Louçã acha que não há gaja que o ature e no caso do Jerónimo ou há gaja ou há candidato. Na mesma Flash ainda pode dar com a astróloga Maia impressa numa página esquerda e o com o nariz a folhear a página direita, assegurando que o Passos Coelho será primeiro-ministro, isto é os astros já decidiram e eu nunca mais saio desta indecisão, porra!
Vamos à Feira do Relógio matar saudades de uma sandes de courato e quando vamos na primeira dentada ficamos logo com um naco entalado entre os caninos e os incisivos, damos de caras com o Paulinho das Feiras com aquele ar de D. Juan siciliano ainda que se tenha deixado dos fatinhos às riscos, que isto agora há muita moda e o rapaz anda sempre muito chique, sem Jaguar mas chique na mesma. Depois de muito palitar lá devolvemos a operacionalidade à dentuça quando apanhamos mais um cagaço, o Relvas enfia-nos a errata do programa eleitoral do PSD quase pela sandes dentro, até ficamos baralhados pois tem o mesmo ar de talhante de Massamá que foi fazer uns biscates a vender o courato que lhe sobrou dos porcos que vendeu durante a semana, sorriso suíno incluído. Passado o cagaço, espera-nos o pior, engulo a meia sandes que ainda me resta acompanhada da lambreta antes que aqueça para ver se não fico embaçado, é que dou de caras com o Sócrates e da última vez que o vi convidou-me para uma sandes de torresmos e logo a seguir me cravou uma de presunto, mais um copo de quarto e uma chávena de café de cevada. Ainda apareceu o louça a dizer-me que não pagamos, mas a essa hora já não havia nada a fazer, a sandes já estava paga e no bucho.
Compro os jornais do dia e de regresso a casa quase mudo de ideias e vou direito ao Júlio de Matos perguntar se ainda há vagas de cama, comida e roupa lavada. No Correio da Manhã dizem que já não estou indeciso, no DN acham que não sei se voto no BE ou no PCP, no i dizem que estou dividido entre o PSD e o CDS e algures leio o Marcelo dizer alguém numa entrevista que eu vou votar naquele que vai ganhar ou que acho que vai ganhar. Isto é, estou entre o parvo, o doido e o deficiente mental.
Mas pelos vistos os políticos acreditam que eu sou uma dessas três coisas e cada um se esforça por argumentar da pior forma pois a minha inteligência não dá para mais, o Portas diz possuir o efeito Axe para eleitores, o professor 0% assusta-me com o Hitler, o Sarmento diz que há pior e até o Arnaut tenta acagaçar-me com o Drácula. Com tanto mauzão devem estar a pensar que ainda não comi a sandes de courato. Alguns até dizem que a banca está rota o que não percebo, passo a mão pelo cu das calças e não sinto por onde possa coçar o dito cujo e a banca das sandes de courato também não me parecia ter buracos.