Se alguém tem dúvidas sobre a fraude económica que está a
ser cometida contra os trabalhadores portugueses basta ler o último relatório
da execução orçamental, lá estão de forma clara os resultados de uma política
económica que a coberto da crise financeira visa promover a maior transferência
força da riqueza entre classes sociais, é como se a direita quisesse recuperar
durante o programa de estabilização tudo o que perdeu com e depois do 25 de
Abril.
Comparem-se os direitos dos funcionários públicos antes do
25 de Abril com os que restam neste momento, ou a actual legislação com as
reformas propostas por Marcelo Caetano e percebe-se o retrocesso civilizacional
a que Portugal e os portugueses estão sendo forçados. Não é a situação
financeira do Estado que esta gente está resolvendo, é recuperar a
competitividade de alguns sectores empresariais que habituados a viver de
facilidades estatais, subsídios, evasão fiscal, corrupção e exploração nunca
modernizaram as suas empresas.
Seria injusto acusar todos os empresários portugueses de
serem responsáveis por este governo, a base social de apoio desta gente nada
tem a ver com valores como a competência, competitividade ou a honestidade.
Esta gente é o lúmpen empresariado português, os que antes do 25 de Abril
sobreviviam denunciando os trabalhadores à PIDE, que no 25 de Abril começaram
por ser do Partido da Democracia Cristã ou do CDS mas que depressa se esconderam
no PSD onde mais tarde se auto designaram como social-democratas.
Esta política económica não via o bem-estar de todos os
portugueses, a justiça ou o progresso, tem como único objectivo depauperar os
pobres, os pensionistas toda a classe média para que os bancos voltem a ter
lucros sem pagarem impostos, para que os patos-bravos voltem a ter sucesso,
para que as clientelas das nacionalizações oportunistas voltem a enriquecer à
custa do país.
É uma política económica conduzida por gente que ignora
ostensivamente os mais elementares princípios, desde os que estão na
constituição aos que desde há mais de um século fazem parte da civilização
ocidental, que não tem a mais pequena preocupação com as situações de miséria a
que forçam muitas das suas vítimas, que não hesitam em criar injustiças para
favorecer os seus, que não têm a mais pequena vergonha na cara na hora de abrir
excepções para que os amigos fiquem isentos das suas medidas.
É uma política criminosa fraudolenta e criminosa que vai deixar atrás de si um rasto de miséria, de gente doente que morreu, de pessoas pessoas honestas que ficaram sem as suas casas, de gente desesperada que se suicidou ou se dedicou ao crime. É uma política que devia conduzir os seus responsáveis à barra dos tribunais onde os juízes condenam portugueses por muito menos, onde os pobres são condenados por terem roubado um shampoo.