Nos últimos anos têm rebentados sucessivos escândalos envolvendo universidades privadas (com excepção de escolas da Universidade Católica, do ISPA), escândalos que apresentam traços comuns. É evidente que as cooperativas não passam de esquemas para alguns oportunistas enriquecerem com um negócio fácil e oportunista, estas falsas universidades apenas ministram cursos em que o investimento é mínimo, servem para uma classe onde se misturam professores pouco escrupulosos e políticos em busca de trocos, envolvem sempre nomes sonantes da classe política e movimentam milhões.
Estas universidades multiplicaram-se a um ritmo bem superior à capacidade portuguesa em termos académicos e não surgiram para suprir qualquer necessidade nacional mas sim para enriquecer alguns à custa de cursos de qualidade questionável. A mania portuguesa de se ser doutor, mania bem evidenciada na forma como Miguel Relvas se licenciou na Universidade Lusófona foi bem aproveitada por alguns professores menos escrupulosos e ávidos de dinheiro fácil.
Com a imposição dos limites ao acesso às universidades públicas multiplicaram-se as universidades privadas, verdadeiros lojas chinesas de canudos universitários em cursos de qualidade científica duvidosa e em áreas onde basta uma sala e um professor para se fazer de conta que se está a ensinar. Os cursos ministrados nestas universidades apresentam três características em comum, são muito procurados pelos serviços públicos, são fáceis e exigem poucos recursos. Primeiro foram os licenciados em direito que não sabem distinguir um decreto-lei de uma portaria, depois vieram os arquitectos e, por fim, os enfermeiros.
As consequências estão à vista, dá-se um pontapé numa pedra e saltam três juristas, os arquitectos são mais do que as mães e os enfermeiros estão à beira de fazer o que já sucede com os psicólogos, estão dispostos a trabalhar gratuitamente só para poderem fazer currículo. O Estado gerido por políticos que se têm servido das universidades privados para encherem a mula ou para inventarem falsas qualificações tem sido o grande responsável pelo oportunismo promovido nestas universidades ao contratar quadros sem avaliar a qualidade das suas qualificações, tratando por igual as médias e os cursos. Não admira que as médias finais nestas universidades sejam superiores, isso confere vantagem aos seus alunos nos concursos de admissão do Estado.
Mas este modelo de enriquecimento fácil está com os dias contados, com o mercado saturado e com o próprio Estado a proletarizar os quadros superiores, pagando aos enfermeiros dez vezes menos do que paga ao motorista do secretário de Estado da Cultura, o negócio dos canudos corre um sério risco de deixar de ser rentável, se uma mulher a dia ganha mais do que um enfermeiro é muito provável que a Universidade Lusófona deixe de ministrar cursos de enfermagem e opte por ministrar licenciaturas em serviço doméstico, poderá fazer rir mas certamente um curso superior de mulher a dias feito a sério exigirá mais estudo e avaliação do que a licenciatura do Miguel Relvas.
Estas universdidades privadas só têm servido para proletarizar os possuidores de estudos universitários, para enriquecer gente sem escrúpulos, para empregar uma classe política onde cada vez mais reina o oportunismo e para desprestigiar o ensino universitário em Portugal. Mas desiludam-se os que pensam que será fácil combater o fenómeno como fez o bastonário da Ordem dos Advogados ao exigir exames rigorosos, são muitos mais os oportunistas destas universidades em altos cargos do Estado do que professores das universidades públicas, são uma importante fonte de enriquecimento fácil de políticos (recorde-se o caso de Paulo Portas e do Jaguar que era visto a passear por Lisboa).