Aprisionado pela crise financeira o povo português foi sujeito a uma experiência mengeliana que visava experimentar um novo tratamento dos males económicos do keynesianismo e dos excessos sociais da democracia, a experiência consistiu em promover o empobrecimento forçado de um grupo social considerado a mais na sociedade, os funcionários públicos, e de um estrato social inútil, os pensionistas.
A experiência consiste em reduzir os custos do Estado e na transferência de riqueza para os mais ricos na esperança de estes investirem e daí resultar alguma riqueza para distribuir pelos que ficaram fora do campo de concentração. Os que foram eleitos para a experiência não têm direito à esperança, uns porque já são velhos e não são produtivos, os outros porque são considerados improdutivos e eleitoralmente inúteis ficam condenados a trabalhar sem direito a promoções, sem segurança no emprego e sem garantias de que não venham a sofrer mais cortes salariais, senão mesmo o esclavagismo em nome do bem comum.
O ideal para esta experiência seria uma ditadura apoiada numa polícia política, mas o medo da ruína calou a maioria e numa noite de cristais o primeiro-ministro acusou os funcionários de todos os males da nação, não produzem, representam despesa pública excessiva e ainda por cima eram os que mais ganhava. Teriam de ser eles a suportar os custos de todos os males da sociedade, por serem culpados, inúteis e dispendiosos.
Numa reunião o grande líder anunciou um grave desvio financeiro provocado pela despesa, no dia seguinte o doutor explicou as palavras do grande líder, a despesa com os inúteis e improdutivos tinha resultado num desvio colossal, havia que adoptar uma tratamento robusto. A experiência foi decidida, cortam-se 30% dos rendimentos, um qualquer Joseph Goebbels explica à imprensa que esta gente é eleitoralmente inútil, o povo fica assustado mas a maioria fica secretamente feliz porque o sacrificado foi o vizinho.
A experiência mengeleana teve início, pela primeira vez um país tinha decidido eleger uma parte da sua população para o empobrecer, transferindo a sua riqueza para o Estado e para os amigos. Enquanto a experiência decorria o povo assistia calado ao divertimento dos senhores deste campo de prisioneiros, iam a festarolas, nomeavam os seus para ganharem aos cinquenta mil nas empresas que iam vendendo, davam chorudos honorários a amigos promovidos a assessores especiais do governo.
Mas a experiência falhou, a pobreza de uns significou o despedimento e a ruína de outros, os cofres do Estado ficaram vazios, o desemprego multiplicou-se e agora ninguém é responsável, todos cumpriam ordens, ninguém escolheu apenas alguns para serem sacrificados, ninguém os acusou de ganharem mais do que a média, ninguém foi a favor de tanta austeridade, a culpa não foi deles, estavam a cumprir as ordens do memorando, a culpa foi da troika. Os sacanas têm, em regra, uma segunda característica, são cobardes, sempre foi assim.