Não acredito muito que Passos Coelho esteja preocupado com o progresso ou que governe a pensar no povo português, parece-me mais que tem uma agenda ideológica que tem mais que ver com os manifestantes do Rossio dos anos 70 do que com a sigla do seu partido. Passos Coelho não tem ideias nem projectos, o seu objectivo é aproveitar-se da crise financeira e em vez de se concentrar em ajudar o país a sair da turbolência dos mercados financeiros está a acentuar a crise para melhor disfarçar a aplicação de um programa que não foi votado por ninguém.
Mas Passos Coelho estivesse preocupado com o país e tivesse uma capacidade intelectual ligeiramente superior ao imbecil que julgou que levava um canudo sem estudar e ninguém daria por isso, poderia aproveitar a sua passagem pela Manta Rota para reflectir sobre as virtudes e limites de um modelo de competitividade assente em salários baixos. Está num concelho, Vila Real de Santo António, que começou por apostar na inovação no tempo do Marquês de Pombal para com o desenvolvimento do capitalismo investir em salários baixos e aproveitamento re recursos naturais facilmente acessíveis.
Na minha infância Vila Real era uma vila industrial onde se multiplicavam as fábricas de conservas de peixe, era o Tenório (o tal das patilhas de cuja marca ainda se vendem latas, er o Ângelo Parodi, uma marca que ainda existe em Itália, o Zé Rita, do pai da esposa de Jorge Sampaio, os Cardosos, os Ramirez e outras. Havia sardinha com fartura, existir uma importante reserva de mão de obra quase escrava que eram as mulheres dos cuicos de Monte Gordo, a sede local da PIDE e uma extensa rede de informadores assegurava a paz social, trabalhavam-se seis dias por semana incluindo os feriados, não existiam direitos laborais e tudo isto existiu durante décadas.
Com tanta riqueza tirada do oceano onde estão as empresas e os capitalistas enriquecidos com décadas de mão de obra barata explorada sem limites e sem regras? Morreram quando o modelo morreu, apenas sobreviveram os Ramirez mas mesmo esses já eram ricos e até muito mais ricos do que são hoje.
A explicação é simples, a competitividade adquirida à custa de salários baixos, desregulamentação laboral, mais dias de trabalho e repressão não gera empresários competitivos, inovadores e bom gestores. Este modelo favorece a multiplicação de empresários gandulos, de maus gestores, de canalhas, gente que gastará a riqueza roubada em casinos, carros e putas, porque onde roubaram essa riqueza há mais para roubar.
Bastaria ao governo estudar as empresas portuguesas que têm sucessos, aquelas que de forma oportunista dizem ser bem sucedidas graças às reformas estruturais alvarinhas, para perceber que não são empresários gandulos, gestores de almoçaradas e clientes de bodeis de luxo, é gente que inovou, que estimulou os seus recursos humanos, que procurou mercados, que não pediu ao governo que lhe desse subsídios ou escravos.
A aposta no empobrecimento não visa resolver os problemas do país ou trazer progresso, tem por único objectivo manter e enriquecer um grupo social de inúteis, grupo a que pertence a gente deste governo e quem Passos Coelho deve a sua eleição.