sexta-feira, julho 06, 2012

Mudar de governo


A reacção de Passos Coelho ao acórdão do Tribunal Constitucional relativo aos subsídios diz muito não só sobre a fraca capacidade intelectual do primeiro ministro, com também sobre os seus valores.

Seria de esperar uma declaração de aceitação da decisão do Tribunal Constitucional, seria mesmo aceitável que o primeiro-ministro demonstrasse alguma preocupação com a necessidade de adoptar medidas. Mas Passos Coelho optou pela vingança.
  
Passos Coelho começou por adoptar o corte dos subsídios com um falso argumento, que os funcionários públicos ganhariam mais do que os outros portugueses. Um argumento premeditadamente falso e que não explicava o porquê da suspensão dos subsídios dos pensionistas do sector privado.
  
Se a justificação dos subsídios assentava em falta de honestidade intelectual, o mesmo tinha sucedido com a razão que terá levado a tal decisão. Tudo começou com um falso desvio colossal que de forma desonesta foi atribuído ao anterior governo. Veio a provar-se que tal desvio não existia e que o corte dos subsídios visava tapar o buraco da Madeira e promover a partir do Estado uma estratégia de empobrecimento dos trabalhadores portugueses.
  
Se a forma como a decisão foi tomada era imprópria em democracia, a desonestidade foi ainda mais longe ao dizer-se que a medida vigoraria durante dois anos quando foi público e notório que para a troika a medida foi tomada por definitiva. Aliás, ainda recentemente o governo dizia que talvez lá para 2015 se pudesse equacionar a hipótese de pagar uma pequena parte dos subsídios.
  
Não admira que um primeiro-ministro desonesto tenha reagido a uma decisão do Tribunal Constitucional com uma vingança, o corte dos subsídios serão estendidos a todos os portugueses. Começou por dizer que os funcionários públicos ganham mais do que os trabalhadores por conta de outrem, agora diz z estes que vão ficar sem subsídios por culpa dos funcionários públicos, porque estes foram protegidos pelo Tribunal Constitucional.
  
Quando o país está á beira do colapso económico, quando toda a Europa anseia por crescimento económico, quando o desemprego cresce exponencialmente e quando todos os economistas (excepto o Gaspar) consideram que o excesso de austeridade está a inviabilizar a economia portuguesa a mensagem vingativa de Passos Coelho é que vai aumentar a austeridade, além dos funcionários públicos serão todos a ficar sem subsídios.
  
Isto prova duas coisas, que o país tem um primeiro-ministro que julga que pode ser um ditador desde que a senhora Merkel goste dele e que perante o falhanço da sua política fiscal aproveita-se agora da decisão do Tribunal Constitucional para aumentar brutalmente a austeridade para compensar a grande queda da receita fiscal, resultado da incompetência do seu ministro das Finanças.
  
Quis o destino que no mesmo dia em que um católico apostólico romana se babava junto dos jornalistas dos elogios dos líderes comunistas chineses à austeridade aplicada aos portugueses, os juízes do Tribunal Constitucional de uma pequena democracia europeia reafirmasse um valor constitucional que está na génese da democracia na Europa, o valor da igualdade.
  
Compreende-se a reacção de Passos Coelho, foi a reacção de quem parece ser alérgico aos valores da democracia e parece ficar com urticária quando se sente incomodado com as instituições democráticas.
O país precisa de um novo governo, com gente que tenha apego à democracia, governantes que tenham consideração pelos seus concidadãos e não os gostem de ver transformados em escravos, um primeiro-ministro capaz de ser competente em democracia, um ministro das Finanças que faça previsões sérias. Não está em causa se é um governo de direita, de esquerda, ou de salvação nacional, que seja competente, honesto e formado por gente que goste do seu país e do seu povo.
  
Se Passos Coelho não consegue ou não quer governar em democracia e tratando os portugueses com igualdade então que se vá embora, que vá trabalhar para as empresas do padrinho.