A reacção de Passos Coelho ao acórdão do Tribunal
Constitucional relativo aos subsídios diz muito não só sobre a fraca capacidade
intelectual do primeiro ministro, com também sobre os seus valores.
Seria de esperar uma declaração de aceitação da decisão do
Tribunal Constitucional, seria mesmo aceitável que o primeiro-ministro
demonstrasse alguma preocupação com a necessidade de adoptar medidas. Mas
Passos Coelho optou pela vingança.
Passos Coelho começou por adoptar o corte dos subsídios com
um falso argumento, que os funcionários públicos ganhariam mais do que os
outros portugueses. Um argumento premeditadamente falso e que não explicava o
porquê da suspensão dos subsídios dos pensionistas do sector privado.
Se a justificação dos subsídios assentava em falta de
honestidade intelectual, o mesmo tinha sucedido com a razão que terá levado a
tal decisão. Tudo começou com um falso desvio colossal que de forma desonesta
foi atribuído ao anterior governo. Veio a provar-se que tal desvio não existia
e que o corte dos subsídios visava tapar o buraco da Madeira e promover a
partir do Estado uma estratégia de empobrecimento dos trabalhadores
portugueses.
Se a forma como a decisão foi tomada era imprópria em
democracia, a desonestidade foi ainda mais longe ao dizer-se que a medida
vigoraria durante dois anos quando foi público e notório que para a troika a
medida foi tomada por definitiva. Aliás, ainda recentemente o governo dizia que
talvez lá para 2015 se pudesse equacionar a hipótese de pagar uma pequena parte
dos subsídios.
Não admira que um primeiro-ministro desonesto tenha reagido
a uma decisão do Tribunal Constitucional com uma vingança, o corte dos
subsídios serão estendidos a todos os portugueses. Começou por dizer que os
funcionários públicos ganham mais do que os trabalhadores por conta de outrem,
agora diz z estes que vão ficar sem subsídios por culpa dos funcionários
públicos, porque estes foram protegidos pelo Tribunal Constitucional.
Quando o país está á beira do colapso económico, quando toda
a Europa anseia por crescimento económico, quando o desemprego cresce
exponencialmente e quando todos os economistas (excepto o Gaspar) consideram
que o excesso de austeridade está a inviabilizar a economia portuguesa a
mensagem vingativa de Passos Coelho é que vai aumentar a austeridade, além dos
funcionários públicos serão todos a ficar sem subsídios.
Isto prova duas coisas, que o país tem um primeiro-ministro
que julga que pode ser um ditador desde que a senhora Merkel goste dele e que
perante o falhanço da sua política fiscal aproveita-se agora da decisão do
Tribunal Constitucional para aumentar brutalmente a austeridade para compensar a
grande queda da receita fiscal, resultado da incompetência do seu ministro das
Finanças.
Quis o destino que no mesmo dia em que um católico
apostólico romana se babava junto dos jornalistas dos elogios dos líderes
comunistas chineses à austeridade aplicada aos portugueses, os juízes do
Tribunal Constitucional de uma pequena democracia europeia reafirmasse um valor
constitucional que está na génese da democracia na Europa, o valor da
igualdade.
Compreende-se a reacção de Passos Coelho, foi a reacção de
quem parece ser alérgico aos valores da democracia e parece ficar com urticária
quando se sente incomodado com as instituições democráticas.
O país precisa de um novo governo, com gente que tenha apego
à democracia, governantes que tenham consideração pelos seus concidadãos e não
os gostem de ver transformados em escravos, um primeiro-ministro capaz de ser
competente em democracia, um ministro das Finanças que faça previsões sérias.
Não está em causa se é um governo de direita, de esquerda, ou de salvação
nacional, que seja competente, honesto e formado por gente que goste do seu
país e do seu povo.
Se Passos Coelho não consegue ou não quer governar em democracia e tratando os portugueses com igualdade então que se vá embora, que vá trabalhar para as empresas do padrinho.