Um dos aspectos mais indignos do programa de austeridade que
está a ser imposto aos portugueses é o facto de no discurso de muitos políticos,
incluindo estrangeiros, estar presente o pressuposto de que os portugueses, são
cornos mansos, uns cobardpolas. Publicamente ninguém o diz, preferem chavões
politicamente correctos, dizem que os portugueses são mais compreensivos, mais
empenhados, mais responsáveis, mas em privado a palavra que todos usam é
cobarde.
Há muito que comparando o povo português com outros
aparentemente mais aguerridos, como o espanhol ou o grego, se diz que somos
mais mansos, mais cobardolas, em suma, que somos cornos mansos. O próprio
governo foi bem mais longe do que a troika porque depois de devidamente
amedrontado os portugueses aceitam tudo, até aceitam que os enfermeiros com
verdadeiras licenciaturas sejam gozados por políticos com falsas licenciaturas
e aceitem empregos ou ganham menos do que empregadas domésticas.
Não admira que a principal competência do “p”residente da
República seja a de dar indicações ao governo sobre se pode ou não meter mais
carga em cima do burro. Ao “p”residente da República pouco importa se as medias
são ilegais, injustas ou abusivas, o seu papel é ir informando o Gaspar e o
Passos Coelho sobre o estado físico do burro de carga que é o povo português. É
por isso que vai informando o governo sobre se o burro aguenta com mais alguns
fardos.
Esta gente confunde calculismo com cobardia e só o vai
perceber quando criar uma situação política irreversível, quando o povo perder
a paciência e não houver discurso apaziguador que trave a revolta que por agora
vai crescendo na alma de cada um. É evidente que é melhor estar empregado do
que desempregado, é melhor estar desempregado e receber o subsídio de
desemprego do que não ganhar nada, é melhor receber o rendimento mínimo do que
nada ter, pior do que tudo isto é estar morto com uma bala que foi disparada
para o ar, estar no hospital depois de ter levado um enxerto de porrada no
Chiado ou preso na penitenciária por se ter excedido nos protestos.
Há quem confunda paciência com cobardia, pragmatismo com
mansidão, ignorância com idiotice. A história do povo português deu demasiados
exemplos de coragem para que meia dúzia de fedelhos com canudos duvidosos ou
doutoramentos em universidades de segunda linha venham promover reengenharias
sociais que não foram debatidas por ninguém, que não foram propostas aos
eleitores e que a coberto da crise e com o apoio de ocupantes estrangeiros de
meia tigela permitam que um obscuro ministro das Finanças decida quem em
Portugal pode se empobrecido ou deve ser enriquecido com os milhões tirados aos
pobres.
Começa a ser tempo desta gente perceber a diferença entre uma
frigideira e uma panela de pressão, a primeira faz mais barulho e a segunda
ferve a temperaturas muito inferiores e quando se faz ouvir já é impossível
tirar a tampa. Cobardes o tanas!