Quando o país mal tinha recuperado da brilhante prestação desportiva
do pessoal de Paulo Bento que ofuscou outros feitos desportivos de nível
europeu, como uma medalha nos dez mil metros femininos nos europeus de atletismo,
fomos surpreendidos por mais candidato ao um recorde digno do Guiness. Não se
trata do maior pastel de nata para promoção do cluster nacional do conhecido
bolo ou da maior sandes de courato produzida na feira do relógio, nem mesmo do
maior cozido à portuguesa, uma promoção dos bombeiros voluntários com vista à
angariação de fundos para compensar os cortes decididos pelo Opus Macedo.
Trata-se de Miguel Relvas, um conhecido banqueiro off shore
de Cabo Verde que fez o especial favor ao país de ser ministro do governo do
seu amigo Passos Coelho que mostrou ao país o caminho do sucesso. Neste país um
jovem que se dedica ao exercício cívico da política e em nome do interesse
nacional até prescinde de prosseguir com os seus estudos, um dia volta às
universidades e não só consegue acabar um curso superior como o faz num ano. E
que ninguém duvide das suas competências pois teve sucesso profissional como banqueiro
e parceiro de negócios da Ongoing, como ainda chegou a ministro, algo de que
Dias Loureiro só muitos anos depois de andar na política se pôde gabar no
famoso telefonema em que disse a famosa frase “Pai, já sou ministro!”.
Em tempos de crise o país deve estar orgulhoso pelo exemplo
de Miguel Relvas, orgulhoso e grato pois o ministro acabar por explicar ao
Crato como pode poupar no ensino universitário. Imagine-se quanto pode o país
poupar se as licenciaturas forem tiradas num ano, os mestrados em dois e os
doutoramentos em três. Melhor do que isto só se o Macedo pagar os enfermeiros a
três euros à hora e ao médicos a quatro!
É de esperar que alguns invejosos se lembrem de questionar
se o Miguel Relvas fez mesmo os exames ou se a transformação de uma cadeira com
dez na faculdade de direito pode ser convertida vinte anos depois em meio currículo
de uma licenciatura da lusófona. Até poderão aparecer algumas línguas mais
maldosas insinuando que não está em causa a competência do ministro mais
cremoso deste governo, mas sim uma eventual falta de carácter, o que a crer na
jornalista do Público o Relvas é um mau carácter, logo não sofre da sua falta.
Mas é de esperar que o PSD venha dizer que quem não deve não teme e solicitar
ao PGR que investigue a licenciatura do Miguel Relvas.
A esta hora já o Crato criou um grupo de trabalho para
implementar nas universidades portuguesas o novo modelo de licenciatura que
ficará conhecido como Relvas à Bolonhesa. Segundo este modelo os alunos, após a
conclusão do 12.º ano, inscrevem-se numa faculdade onde prestarão provas a uma
cadeira à sua escolha. Concluídas as provas com aprovação poderão ingressar na
vida activa, podendo regressar à universidade num prazo de vinte anos,
ingressando num qualquer curso à sua escolha. Após o reingresso apresentarão
prova de que vinte anos antes fizeram uma cadeira com nota de dez e de seguida
a universidade marca-lhes os exames das cadeiras que faltam para a conclusão da
licenciatura de forma a que o diploma seja entregue no prazo máximo de um ano.
O ministro Couto está mesmo a estudar a hipótese de estender
este modelo de licenciatura, assim, se na cadeira tirada a seguir ao ensino
secundário o aluno tiver obtido uma nota superior a 15 poderá transitar logo
para o mestrado e se a nota for superior a 17 poderá passar ao doutoramento
passando a dispor de seis meses para apresentação e defesa da tese. O ministro
da Educação Nacional já convidou os tais rapazes do Técnico que avaliaram as
Novas Oportunidades para confirmarem a validade desta modalidade do Relvas à
Bolonhesa. O governo quer certificar-se que os futuros licenciados, mestres e
doutores evidenciem as mesmas capacidades e competências do Miguel Relvas, um
banqueiro africano de sucesso a quem o país pediu o sacrifício de ser ministro.