Consumir demais não é andar de Jaguar, Audi ou BMW comprado
pela firma a título de custos dedutíveis da coleta e pagar as reparações e a
gasolina com cartão da empresa. Consumir demais é comprar um FIAT Uno a
prestações e andar seis anos a pagá-lo com dinheiro do ordenado.
Consumir demais não é levar a família do banqueiro em classe
executiva passar as férias da neve nas melhores estâncias suíças. Consumir
demais é a cabeleireira viajar com as varizes apertadas num voo charter para
passar uma semana num resort da República Dominicana.
Consumir demais não é o grande empresário poupar o seu
dinheiro e investir com subsídios do QREN para depois declarar a insolvência da
empresa e continuar a viver dos seus rendimentos. Consumir demais é cair na
miséria e viver com duzentos ou trezentos euros de rendimento mínimo.
Consumir demais não é reservar com antecedência o almoço num
dos muitos restaurantes de luxo proliferaram na capital e pagar a conta com o
cartão Visa da empresa para que o repasto seja deduzido dos impostos. Consumir
demais é levantar 20 euros no Multibanco e levar o filho ao cinema comer
pipocas e depois passar por um McDonald’s e dar-lhe um Happy Meal.
Consumir demais não é comprar numa das muitas lojas que
abriram na Av. da Liberdade, desde a Louis Vuitton à Prada. Consumir demais é
comprar um par de sapatos numa loja da Batta, que, aliás, fecharam com a crise
Consumir demais não é ser administrador de dezenas de
empresas beneficiando de poderes ocultos no momento de influenciar o poder e
assim ganhar dezenas de milhares de euros. Consumir demais é reformar-se aos
setenta anos, receber uma pensão miserável e ainda ficar sem os subsídios.
A política de empobrecimento forçado imaginada pelo Gaspar e
a que o Passos Coelho aderiu deslumbrado é a versão em política económica da
teoria do Restaurador Olex, é uma política económica Olex que visa restaurar a
sociedade tal como estava, os pobres devem ser pobres, comportar-se como
pobres, ganhar consumir como pobres e nem ousar ambicionar deixar de serem pobres.
Com esta política económica o governo pretende restaurar o modelo social
primitivo, tal como o preto não pode andar de cabeleira loira também não faz
sentido ver o pobre numa praia dominicana ou receber sem trabalhar, atributos
que, como se sabem, são e devem continuar a ser atributos dos ricos.
Foi o Gaspar que um dia disse que a sua política económica
tinha pressupostos ideológicos, hoje são evidentes não vale a pena andar no
meio dos canhamaços de política económica para encontrar os fundamentos desta
política. Ela não passa da transposição para a economia dos mais elementares
valores da extrema-direita, isto não é uma política económica, é forçar a
economia e a sociedade a ajustarem-se a preconceitos ideológicos de extrema
direita explicados de uma forma muito simples no anúncio do Restaurador Olex.
O que é isso de os pobres terem desatado a ganhar mais uns trocos e a consumir coisas que até há pouco eram impensáveis? As consequências estão à vista e a recuperar a competitividade é endireitar o país, repor a normalidade, meter cada um no seu devido lugar.
O que é isso de os pobres terem desatado a ganhar mais uns trocos e a consumir coisas que até há pouco eram impensáveis? As consequências estão à vista e a recuperar a competitividade é endireitar o país, repor a normalidade, meter cada um no seu devido lugar.