Dentro de dias voltarão a andar por aí aqueles três funcionários
com ar de coronéis da SS a passear pela Paris ocupada para avaliarem o que o
governo português fez nos últimos tempos. Depois elaboram um relatório
elogioso, afirmando que a EDP está uma maravilha desde que o Catroga ganha
cinquenta mil, que a RTP ficará bem entregue aos donos da comunicação social
que ajudaram o Passos a chegar ao poder, mas que há uns pequenos deslizes que
implicam umas medidazitas, coisa pouca que o povo pagará de boa vontade.
O ridículo de tudo isto é que não passa de uma encenação, a
troika tem cá dezenas de funzionariozecos que mandam nos ministros, nos secretários
de Estado e nos directores-gerais, a coisa é tão pouco digna que até há
governantes e directores-gerais que usam a troika para ganharem vantagem sobre
outros governantes e outros directores-gerais.
Só que aquilo que era um processo de negociação entre
entidades financeiras e um governo soberano há muito que deixou de o ser. O
Gaspar descobriu que manda menos num país que entregou a soberania, o Passos
Coelho aceitou fazer o papel de primeiro-ministro desde que o deixem vender aos
amigos e a preços de saldo o que resta do património público e os rapazolas da
troika brincam com um país e há muito que mandaram o memorando de entendimento
para a reciclagem na Renova.
Dantes a troika negociava com todas as forças políticas e os
indígenas exigiam a tradução do memorando para língua portuguesa. Agora já não
há memorando, a troika manda através de memorandos e o primeiro-ministro tem
para os dirigentes das organizações internacionais. A troika ignora que
Portugal é um país soberano, que assinou um memorando de entendimento, que esse
memorando não foi assinado apenas pelos partidos do governo (que nem sequer têm
a maioria dos votos dos portugueses), que na base da negociação estava o
respeito pela soberania e pela constituição do país.
No memorando sempre que as medidas correm o risco de
ofenderem os princípios constitucionais, como é o caso da legislação laboral,
afirma-se o princípio de que as medidas devem respeitar a Constituição da República.
Mas quando o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional o corte dos subsídios,
uma medida que nem estava no memorando nem foi negociada com todas as partes do
acordo, a troika com a Comissão do Barros à frente veio logo castigar o país
exigindo medidas equivalentes. Mas agora que o desvio das contas pública é
colossal em consequência das decisões da troika ninguém exigiu nada.
A troika não vem a Portugal avaliar coisa nenhum e muito
menos o país ou o comportamento do povo português, a troika aceitou violar a
soberania de um país membro das organizações internacionais que a integram e o
que vem fazer é avaliar a merda que tem feito. O que a troika vem cá fazer é
avaliar as consequências de uma experiência ideológica que não respeita a
vontade, a cultura e alei constitucional de um país cujo povo foi transformado
em cobaia de experiências económicas mengelianas. O que a troika vem fazer não é
avaliação, é autoavaliação.
O problema é saber quem avalia a troika, quem da a cara por
aquilo que tem sido feito, se o Durão Barroso (o tal que fugiu para melhor
ajudar Portugal) e os seus pares no BCE e na FMI ou se os palermas que andam
por aí com ar de parvos. O problema é saber se a Comissão, o FMI e o BCE vão
aceitar serem avaliados pelas consequências da experiência extremista, ilegal e
abusiva que graças a uma governo fraco, de idiotas ambiciosos e de estarolas
estão fazendo em Portugal.