sábado, agosto 25, 2012

E quem avalia a troika?


Dentro de dias voltarão a andar por aí aqueles três funcionários com ar de coronéis da SS a passear pela Paris ocupada para avaliarem o que o governo português fez nos últimos tempos. Depois elaboram um relatório elogioso, afirmando que a EDP está uma maravilha desde que o Catroga ganha cinquenta mil, que a RTP ficará bem entregue aos donos da comunicação social que ajudaram o Passos a chegar ao poder, mas que há uns pequenos deslizes que implicam umas medidazitas, coisa pouca que o povo pagará de boa vontade.
  
O ridículo de tudo isto é que não passa de uma encenação, a troika tem cá dezenas de funzionariozecos que mandam nos ministros, nos secretários de Estado e nos directores-gerais, a coisa é tão pouco digna que até há governantes e directores-gerais que usam a troika para ganharem vantagem sobre outros governantes e outros directores-gerais.
  
Só que aquilo que era um processo de negociação entre entidades financeiras e um governo soberano há muito que deixou de o ser. O Gaspar descobriu que manda menos num país que entregou a soberania, o Passos Coelho aceitou fazer o papel de primeiro-ministro desde que o deixem vender aos amigos e a preços de saldo o que resta do património público e os rapazolas da troika brincam com um país e há muito que mandaram o memorando de entendimento para a reciclagem na Renova.
  
Dantes a troika negociava com todas as forças políticas e os indígenas exigiam a tradução do memorando para língua portuguesa. Agora já não há memorando, a troika manda através de memorandos e o primeiro-ministro tem para os dirigentes das organizações internacionais. A troika ignora que Portugal é um país soberano, que assinou um memorando de entendimento, que esse memorando não foi assinado apenas pelos partidos do governo (que nem sequer têm a maioria dos votos dos portugueses), que na base da negociação estava o respeito pela soberania e pela constituição do país.
  
No memorando sempre que as medidas correm o risco de ofenderem os princípios constitucionais, como é o caso da legislação laboral, afirma-se o princípio de que as medidas devem respeitar a Constituição da República. Mas quando o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional o corte dos subsídios, uma medida que nem estava no memorando nem foi negociada com todas as partes do acordo, a troika com a Comissão do Barros à frente veio logo castigar o país exigindo medidas equivalentes. Mas agora que o desvio das contas pública é colossal em consequência das decisões da troika ninguém exigiu nada.
  
A troika não vem a Portugal avaliar coisa nenhum e muito menos o país ou o comportamento do povo português, a troika aceitou violar a soberania de um país membro das organizações internacionais que a integram e o que vem fazer é avaliar a merda que tem feito. O que a troika vem cá fazer é avaliar as consequências de uma experiência ideológica que não respeita a vontade, a cultura e alei constitucional de um país cujo povo foi transformado em cobaia de experiências económicas mengelianas. O que a troika vem fazer não é avaliação, é autoavaliação.
  
O problema é saber quem avalia a troika, quem da a cara por aquilo que tem sido feito, se o Durão Barroso (o tal que fugiu para melhor ajudar Portugal) e os seus pares no BCE e na FMI ou se os palermas que andam por aí com ar de parvos. O problema é saber se a Comissão, o FMI e o BCE vão aceitar serem avaliados pelas consequências da experiência extremista, ilegal e abusiva que graças a uma governo fraco, de idiotas ambiciosos e de estarolas estão fazendo em Portugal.