Já tivemos um ministro das Finanças que constatou o elevado
custo de vida porque certa vez foi ao mercado com a esposa, mas isso é coisa do
passado, agora os ministros das Finanças conhecem a realidade através de indicadores
económicos, para eles os seus concidadãos não passam de agentes económicos,
gerem a economia como se pudessem mandar batalhões para a morte na frente de
combate, como se fossem generais do tempo das grandes guerras.
Um dos grandes problemas desta abordagem de gestores de mercearias
arvorados em economistas é não terem a percepção do sofrimento que infligem ao
seu povo, é não entenderem que um país não pode ser gerido como se fosse uma
conta de lucros e perdas de uma mercearia. Nas empresas há greves pontuais
quando há, num país há conflitos sociais, revoluções e guerras civis.
Ainda por cima desde há duas décadas que as economias,
empresas e Estados, passaram a viver da mentira e aldrabar sistematicamente as
contas, os ministros das Finanças deixaram de ser gente confiável para passarem
a ser aldrabões. Hoje é difícil confiar na bondade dos orçamentos do Estado que
assentam em falsos pressupostos e apontam para metas de despesas e de receitas
manipuladas.
Depois tudo serve para ver sinais positivos no horizonte,
tudo são grandes sucessos e até a venda de uma dúzia de latas de conservas de
peixe se deve a uma viagem de Paulo Portas e da sua comitiva de cem pessoas à China.
Como o governo e a troika tentaram enganar os portugueses e os mercados o
aumento conjuntural das exportações foram resultado das grandiosas reformas do
Álvaro.
De um lado temos um governo optimista, um Cavaco que falava
de criação de emprego e de crescimento já neste segundo semestre e uma troika
que usa Portugal para achincalhar a Grécia. Do outro está uma realidade
deprimente, os carros de compras quase vazios, as filas de espera para receber
a ajuda alimentar que é distribuída à noite pelas ruas das cidades, os
restaurantes às moscas e a encerrar uns a seguir aos outros.
Como compatibilizar a realidade económica de que nos
apreendemos no dia a dia com o optimissmo radiante do Gaspar ou do careca? Em
quem confiar?