sábado, agosto 04, 2012

Universidade de Verão da Praia dos Três Pauzinhos (2)

Nos meus tempos de estudante os que estudavam (que coisa tão estranha esta de precisar de estudar para acabar um curso…) economia brincavam com os de gestão dizendo-lhes que estudavam mercearia. Enfim, mercearia talvez fosse um exagero infeliz ainda que neste país hajam bancos e grandes empresas que são pior geridas que as mercearias de bairro, mas estudavam gestão de empresas, isso mesmo, empresas.
  
Mas desde há algum tempo que andam por aí uns artistas a opinar sobre economia e quando o povo ouve o presidente do conselho directivo (uma espécie de chefe de secretaria mas mais fino) do ISEG discorrer sobre a economia portuguesa ouve-o como se da sua boa saísse a palavra de Deus, como se um modesto católico da última fila da igreja estivesse ouvindo a palavra do presidente da Congregação para a doutrina e Fé. Acontece que muitos destes senhores não são economistas, são gestores de empresas, é como se de repente o serviço de cardiologia do Hospital de Santa Maria passasse a ser ocupado por um veterinário com experiência em coração de equinos.
Os novos gurus da sociedade portuguesa, os verdadeiros salvadores da pátria, deixaram de ser os engenheiros ou os economistas da Quinta da Coelha para passarem a ser os gestores de empresas a opinar sobre as soluções que nos vão desenrascar. Isto é, levaram os bancos quase à falência, deixaram-se comer pelos comunistas chineses, ao longo de trinta anos andaram a coçar os cujos enquanto as suas empresas se afundavam na perda de competitividade e agora são eles que sabem qual a mezinha adequada para salvar o país.

O Pires de Lima, homem especializado em obter lucros com as bebedeiras e o alcoolismo, diz ao submarinista do Portas quem deve ser sacrificado, o presidente do BCP diz quem deve pagar ,mais impostos, o senhor Ulrich, doutorado nas praias da linha, explica aos ministros a que portugueses devem ir buscar dinheiro para financiar o capital do seu banco (seu dos angolanos, claro). Enfim, sempre há algum progresso nisto porque quando o Medina Carreira se mete na política económica é caso para gritar “ó Ilda mete os putos na barraca para não ficarem burros!”, pois este senhor não tem uma hora curricular de estudo da política económica.

A lógica destes senhores é simples, o que é bom para as empresas é bom para o país, se as empresas forem salvas estaremos a salvar o país e se as empresas estiverem bem haverá emprego e bem-estar para os portugueses. Tudo mentiras. Desta forma os indicadores importantes deixam de ser os relativos ao país para passarem a ser os indicadores de gestão das empresas a determinarem as política, pouco importa se aumenta a mortalidade infantil se o lucro do BPI aumentar e o pessoal do avental ajudar o do cruxifixo a sair do purgatório em que se transformou o Millennium-BCP. Os trabalhadores não devem ver nos seus salários se estão bem na vida, para isso o importante é saber se o patrão tem lucros que cheguem para comprar um Ferrari aos filhos.

Isto é uma inversão de valores que nos leva quase ao tempo dos bárbaros, só nos tempos duros do feudalismo se registou tal desprezo pelos mais fracos na história da humanidade, era o tempo em que tudo é feito para prazer do senhor feudal. Por este andar ainda nos vão buscar as filhas a casa para serem desfloradas pelo presidente de um banco ou de uma cervejeira.