sexta-feira, agosto 24, 2012

Haja delicadeza!

Se mais nenhuma virtude se encontrar neste governo há uma que desejo atribuir-lhe, é tudo muito delicado. É verdade que algumas das personagens que por aí andam são uma bestas quadradas, mas se o Relvas não é um doutor de verdade temos que lhe tirar o chapéu em matéria de delicadeza, o homem é cheio de trejeitos e de mesuras.
  
Ainda hoje a comunicação social dá um exemplo de delicadeza a propósito da divulgação do modelo de entrega da RTP aos privados, muito provavelmente ao pessoal da Ongoing, o que nos leva a pensar que depois de privatizada a RTP terá um avental no logotipo. Perante a divulgação do modelo de negócio o ilustre banqueiro António Borges que está a fazer o frete de ser assessor do Gaspar para as privatizações apressou-se a vir esclarecer a comunicação social informando que era verdade, havia a possibilidade de o segundo canal ser extinto e o primeiro canal ser entregue a um privado.
  
Mas do António Borges já se esperava este género de educação, o homem sabe comer à mesa sempre se apresentou com aquele sorriso Pepsodent e com um ar que olhamos para ele e ficamos logo com a sensação de que ali temos um ser que não só recebeu as melhores educações como deverá ser superior a tudo o que está em seu redor. Mas a surpresa está no facto de este ambiente de delicadeza estar a influenciar o país e até influenciar o Ministério Público.
  
Se fosse noutros tempos teríamos um Caso Documentos Ocultos e até o primeiro-ministro seria escutado, nem que fosse por engano. Mas agora não acontece nada disso, o Ministério Público já não faz nem escutas nem buscas domiciliárias, os ministros podem estar tranquilos na sua privacidade, nem o sindicato exige que tudo seja investigado até ao fim e nem sequer o inquilino da Quinta da Coelha já chama o sindicalista da toga a Belém para o informar.
  
Os tempos são outros, agora é tudo muito delicado excepto os traseiros governamentais que em consequência da crise estão a ser sujeitos a papel mais grosseiro e menos perfumados. Talvez por isso uma senhora da limpeza viu uns dossiers cheios de papel que poderiam ser uma preciosa ajuda às contas públicas e converteu-os em papel de limpeza dos delicados traseiros governamentais, não serão tão macios nem perfumados como os da Renova, mas sempre se poupam uns cobres, ainda que algum coronel adjunto ou mesmo o ministro da Defesa corresse o risco de ficar com um submarino estampado nas nádegas.
  
Vem isto a propósito da forma delicada como a Procuradoria-Geral informa que vai pedir aos ministros Portas e Aguiar-Branco a sua ajuda para encontrar os documentos do negócio dos submarinos que andam desaparecidos. Antigamente faziam-se buscas e escutas a que nem o primeiro-ministro se escapavam. Agora fazem-se delicados pedidos de ajuda e colaboração.
  
Haja delicadeza! Esperemos agora que tanta delicadeza ajude a saber se alguém se abotoou com dinheiro dos submarinos que agora alguns portugueses, aqueles que o Gaspar elegeu como vítimas da sua austeridade, estão a pagar com língua de palmo. Porque isso de terem andado a gastar acima das possíbilidade dá direito ao devido castigo em cortes de salários, de subsídios ou de pensões e a aumento de impostos. É uma pena que o gaspar não aprenda a ser delicado com o Pinto Monteiro.