Se Castelo de Vide tem a sua universidade, se o Alberto João é reitor da universidade de Verão do Porto Santo, se em Entrecampos tira-se uma licenciatura com menos regas do que as necessárias para fazer nascer malmequeres, então porque razão este humilde palheiro não se auto-promove a Universidade de Verão da Praia do Cabeço? Se as coisas correrem mal e saírem daqui uns licenciados em física nuclear é certo e sabido que o Marcelo não questionará nem a responsabilidade do palheiro nem os conhecimentos dos doutores, vai dizer que a culpa é da lei e estabelecer os devidos paralelos com Sócrates.
Num tempo em que Portugal conhece níveis de destruição de empregos como nunca se tinha visto será interessante questionar se a CGTP tem razão de acusar os programas de emprego jovem de promover a escravatura. Curiosamente, fez-se silêncio e os especialistas em mercados continuaram a fazer de conta que estavam todos de férias.
Poder-se-ia contestar a CGTP dizendo que a escravatura seria para muitos portugueses um progresso, o salário mínimo pago em Portugal e que tanto preocupa os nossos ministros já não daria para manter uma família de escravos. Se um patrão português tivesse escravos e fizesse contas chegaria à conclusão de que seria mais barato ter assalariados, a esta hora a senhora Merkel e a troika estaria a exigir uma importante reforma estrutural, o fim da escravatura! Alguém consegue ter enfermeiros escravos e mantê-los com trezentos euros por mês? É óbvio que não, esse dinheiro mal chegaria para mandar lavar as batas a uma lavandaria.
Deixando a questão das desvantagens económicas da escravatura de lado é evidente que a CGTP tem razão, se um empregado custa a uma empresa cem ou duzentos euros por mês graças aos falsos incentivos a programas jovens nenhuma empresa estará disposta a pagar mais do que isso a alguém cuja contratação não dá lugar à obtenção de subsídios. Numa situação de desequilíbrio do mercado de trabalho, com a procura a exceder largamente a procura esses subsídios levarão a que o preço de equilíbrio nesse mercado se verifique a um nível salarial mais baixo.
Nestas circunstâncias os subsídios estatais apenas promovem a desvalorização generalizada do factor trabalho, sendo duvidoso que promova a criação de emprego. A verdade é que até promove a preguiça nos empresários, terminado o programa muitos empresários adiarão a contratação de novos trabalhadores porque espera que o governo volte a conceder subsídios.
A direita que tanto criticou estes programas recorre agora a este estratagemas para pagar a alteração das estatísticas do desemprego. Usa o dinheiro dos que trabalham para financiar concorrentes que irão trabalhar por muito menos e, em limite, chegará o momento em que deixará de arrecadar contribuições sociais e impostos em montantes suficientes para financiar a mentira pois está a desvalorizar o factor trabalho.
Os que criticaram o governo anterior por recorrer a este estratagema usam-no agora em circunstâncias ainda mais duvidosas e com consequências bem mais perversas. É legítimo questionar se o governo está preocupado com os jovens ou se está usando o seu desespero para promover o empobrecimento dos trabalhadores. A CGTP parece ter razão.