quarta-feira, setembro 05, 2012

A tese do corno manso


Em termos de política internacional o governo português decidiu opor à revolta grega uma postura que pode ser explicada pela tese do corno manso. A ideia era simples, se os gregos protestavam o melhor para os portugueses era porem de rabo para o ar em sinal de rendição, afinal, há quem defenda que foi assim que a Alemanha perdeu a guerra e como se sabe tudo o que agrade à senhor Merkel é bom para Portugal.
   
A senhora Merkel mais o seu ministro andavam irritadíssimos com os gregos, esta gente dos Balcãs tinha enchido o bandulho e agora não só não queriam pagar a despesa como ainda andavam a manifestar-se e, como se isso fosse pouco, ainda tinham a ousadia de recordar um tal Adolfo cujas dívidas ninguém pagou.
  
O governo português viu na dignidade dos gregos a oportunidade de vender a ideia que em Portugal vivia um povo de cornos mansos, se os gregos faziam exigências à Merkel os portugueses faziam vénias aos rapazolas da troika, se os grego irritavam o ministro alemão das Finanças o Gaspar oferecia-se para lhe mudar as fraldas, se a Grécia afundava-se em consequência da irresponsabilidade do seu povo Portugal voltava a ser o oásis de outros tempos, era só sucessos.
   
O cinismo desta estratégia está no facto de o governo português ter beneficiado da luta dos gregos, o país comportou-se como os fura-greves que depois recebem as benesses conquistadas pelos que fizeram greve. Hoje os juros são bem inferiores aos iniciais graças aos gregos e a disponibilidade para aligeirar a estratégia da austeridade deve-se ao medo das organizações internacionais de serem acusadas de destruir a economia grega. A troika tudo fará para salvar Portugal, isso será útil aos irresponsáveis do FMI, do BCE e da Comissão para se ilibarem da acusação de terem destruído a economia grega, poderão usar Portugal como exemplo de sucesso das suas teses miseráveis.
   
É por isso que o governo opta pela tese do corno manso e exibe ao mundo um país onde muito boa gente até já dispensa a existência de regras constitucionais, onde se aumenta o horário de trabalho sem qualquer compensação salarial, onde se corta arbitrariamente o rendimento a determinados grupos sociais por conveniência e interesse de outros grupos.
   
Parece que no mundo da troika ser cobarde, subserviente e esquecer a defesa dos interesses do país merece recompensa, enfim, vinte séculos depois há quem queira pagar os trinta dinheiros.