Imagine que num país democrático um governo decida violar
deliberada e intencionalmente uma Constituição, impondo ao país uma agenda política
que não apresentou em qualquer programa eleitoral, que não negociou com uma
maioria alargada ou que não consta em qualquer instrumento legal nacional ou
internacional legitimamente adoptado, isto é, adoptado de acordo com o regime
democrático e com as suas regras, princípios a que obedece a União Europeia,
espaço onde não se aceitam ditaduras.
Imagine-se que nesse mesmo país um Presidente da República a
quem a Constituição da República obrigou na sua posse a jurar respeitar e fazer
respeitar essa mesma Constituição decide ignorar os princípios constitucionais,
dispensando de qualquer verificação pelo Tribunal Constitucional os diplomas
governamentais que contêm normas deliberadamente inconstitucionais.
Imagine-se que nessa democracia assente, em princípio, no
princípio da separação de poderes os magistrados do MP estão organizados num
sindicato com forte intervenção na vida política partidária, que organiza congressos
com programas luxuosos, que se envolve em processos mediáticos tomando posições
que condicionam os seus intervenientes e até chega a reunir com o presidente
para denunciar supostas pressões governamentais. Imagine-se que altos
magistrados se envolvem em iniciativas político-partidárias.
Imagine-se que para condicionar a opinião pública esse governo recorria a esquemas de propaganda semelhantes aos usados por Goebbels, acusando uns de privilégios e de maior responsabilidade pela crise financeira, lançando impostos sobre outros para devolver o dinheiro aos patrões com o argumento de que isso foi uma determinação dos malditos juízes do Tribunal Constitucional, e que para passar a mensagem o governo contava com o apoio de patrões da comunicação social que contam receber em troca uma estação pública de impostos mais um subsídio de milhões a título de um falso serviço público.
Imagine-se que para condicionar a opinião pública esse governo recorria a esquemas de propaganda semelhantes aos usados por Goebbels, acusando uns de privilégios e de maior responsabilidade pela crise financeira, lançando impostos sobre outros para devolver o dinheiro aos patrões com o argumento de que isso foi uma determinação dos malditos juízes do Tribunal Constitucional, e que para passar a mensagem o governo contava com o apoio de patrões da comunicação social que contam receber em troca uma estação pública de impostos mais um subsídio de milhões a título de um falso serviço público.
Num quadro destes quem vela pelo respeito da democracia,
quem assegura a normalidade democrática, quem garante que o poder respeita a
vontade dos eleitores?
A democracia cria mecanismos que asseguram que em qualquer
caso existam soluções democráticas, assenta n uma constituição cujos princípios
todos respeitam, para que as instituições funcionem regularmente estão
definidos os limites dos seus poderes e para assegurar o equilíbrio entre estes
define-se como regra a separação de poderes. Se tudo isto deixa funcionar como é
que a democracia sobrevive enquanto tal, sem se transformar num regime autoritário.
É evidente que não há polícia política mas se alguém
criticar o Presidente da República pouco pode dizer sob pena de ser perseguido
pela justiça por ofensas ao PR, crime previsto no Código Penal. Se criticar o
governo para além dos limites que este aceita pode ser perseguido por ofensa ao
governo, crime previsto no Código Penal pois trata-se de uma ofensa a uma
instituição.
Resta aos portugueses aos juízes, estes poderão declará-los
inocentes, negando a fazer o papel que no passado fizeram os juízes dos
tribunais plenários. Mas quando alguém chegar a julgamento já foi arruinado por
custas judiciais e despesas com advogados, a justiça em Portugal não se faz na
barra dos tribunais, faz-se no Correio da Manhã e na conta bancária e ninguém
resiste à difamação e à ruína.
É evidente que qualquer semelhança entre este exemplo teórico
e a realidade que vivemos será uma pura coincidência, por cá os magistrados do
MP não se metem em político, o governo é escrupuloso na forma como respeita os
princípios constitucionais e o Presidentes tem sido um verdadeiro “pitbull” de
guarda à Constituição da República. Mas imagine-se que numa qualquer República
Centro Africana ou na terra de um qualquer Bokassa esta situação fosse real.
Como se poderia sair de uma ditadura disfarçada de democracia e defendida pelos
princípios e mecanismos judiciais criados para defender a democracia?