Há poucos dias o representante da Comissão Europeia na
troika disse aos sindicalistas com quem estava reunido que a responsabilidade
do programa do governo era deste e não da troika, hoje vem Durão Barroso dizer
que os países sob programa não podem desmantelar estado social. Estamos perante
um caso de mentira governamental ou de cobardia institucional por parte da
troika, o governo tem usado a troika para impor ao país uma agenda política que
não foi a votos nem foi imposta por esta ou os técnicos da troika estão a fugir
às responsabilidades agora que perceberam o que fizeram ao país?
É evidente que o país tem sido um caso doentio de subserviência,
os modestos técnicos da troika, funcionários de segunda linha de organizações
internacionais a que Portugal pertence como membro de pleno direito têm-se
passeado pelo país como se fossem donos disto, são recebidos pelo
primeiro-ministro e pela presidente do parlamento como se fossem presidentes do
EUA, são tratados protocolarmente muito acima de quem são e do que merecem. Não
traduzem nada para português apesar dos milhões de comissões que o Estado
português paga e nas suas páginas oficiais nada consta sobre as actualizações
do memorando ou sobre a sua origem.
Aquilo a que temos assistido quando os três idiotas por cá
aparecem é ofensivo para o país e se os governantes portugueses ainda não
perceberam a diferença entre defender a soberania de um país e comportar-se
como donos da tasca da coxa pelo menos os presidentes do BCE, da Comissão
Europeia e do FMI já deviam ter explicado aos seus funcionarecos que não vieram
a Portugal como se fossem administrativas inglesas em busca de sexo fácil com o
Zezé Camarinha.
Estes senhores deram cobertura a um programa económico que não
constavam nem em qualquer programa eleitoral, nem no memorando, aceitaram
alterações do memorando sem qualquer negociação com todas as partes que
assinaram o memorando, dispuseram-se a participar em manobras de propaganda político-partidária
onde não se cansaram de elogiar o governo e os pretensos resultados do
ajustamento brutal. Agora dizem que a responsabilidade exclusiva é do governo
português?
Não deve ser fácil para os rapazolas da troika terem
percebido que o negócio da EDP nada teve que ver com qualquer ajustamento e
devem ter-se sentido gozados quando viram o Catroga a ganhar muito mais do que
eles. Deve ter sido frustrantes terem percebido que no país ainda existiam
instituições que não se submetiam aos ditames de um ministro das Finanças sem
currículo e que se tem vindo a revelar incompetente, as coisas estavam a correr
tão bem na experiência portuguesa que a existência de um Tribunal
Constitucional os deixou surpreendidos. Que gente rasca da direita fascista
portuguesa tenha ficado desiludida porque o TC ousou funcionar ainda se
entende, mas que técnicos de organizações internacionais não tivessem reagido
com educação cívica é inaceitável. Como explicam os representantes da troika
que na ronda de reuniões nunca questionem como vão ser compensados os mais de
dois mil milhões de perdas em receitas fiscais mas exijam sempre aos
interlocutores que sugiram medidas para compensar a decisão do TC de repor os
subsídios das vítimas do Gaspar?
Começa a ser evidente que estes senhores que têm
representado a troika em Portugal são gente com pouca educação, com uma educação
cívica muito deficiente e pela forma deslumbrada como circulam nos palácios até
parece que nem deverão saber estar à mesa. Começa a ser tempo de os responsáveis
das organizações internacionais assumirem a incompetência dos seus
representantes em Portugal e promover a sua substituição por gente bem formada,
educada, com uma sólida formação cívica e com conhecimentos adequados de política
económica.