Os que acham que o país está a ser reformatado porque tal é
exigido pela troika desenganem, o que está a suceder em Portugal não estava
previsto no memorando, na imaginação de Passos Coelho ou no programa eleitoral
dos partidos que estão no governo, a revolução neo-fascista a que estamos a
assistir estava nos papers de alguns economistas. Nunca declaração já esquecida
por muita gente Vítor Gaspar disse que a este programa está subjacente uma
ideologia, só não disse qual e que era a sua.
Aquilo a que o país está a ser sujeito é a muito mais do que
a um ajustamento ou a um programa de austeridade como exigido pela senhora
Merkel, esse era o PEC IV que a direita boicotou com a ajuda de Cavaco Silva
para poder derrubar o governo anterior. O país está a ser reformatado segundo
um programa que decorrer mais de uma ideologia do que dos manuais de política
económica.
Se Vítor Gaspar estivesse preocupado com o ajustamento não
lançava um programa económico assente em previsões falsificadas, evitaria que
as receitas fiscais caíssem brutalmente, tudo faria para evitar o aumento
exponencial do desemprego, procuraria que se cumprisse a meta do défice. A própria
fraude com a TSU vai contra os objectivos do ajustamento, cria desemprego,
contrai o consumo e aumenta a recessão, traduz-se numa descida das receitas
fiscais pela contracção do consumo e pela redução da colecta para efeitos de
IRS.
Vítor Gaspar está pouco incomodado com a ruína do país, para
quem quer impor uma reformatação do país em quatro anos a coberto de uma crise
financeira quanto mais se agravar esta crise melhor. Vítor Gaspar ainda não
conseguiu tudo o que os ultra defendem, falta o despedimento em massa de
funcionários públicos, a total liberalização dos despedimentos, a destruição da
Segurança Social, a privatização de uma boa parte da Saúde e do Ensino.
Como os portugueses nunca aceitarão estas transformações se
apresentadas em eleições é necessário lançar o país na ruína para forçar os
portugueses a aceitar este Estado Novo, para que seja um facto consumado antes
das próximas eleições legislativas, para que o militares fiquem assustados nos
quartéis, para que o Presidente se cale, para que o Tribunal Constitucional se
demita da sua função.
Passos Coelho começou por pedir desculpa por aprovar uma
pequena dose de austeridade, depois recusou mais austeridade, aproveitou a
janela oferecida pelo memorando para levar o seu liberalismo mais longe nas
privatizações e começou a ser mais troikista do que a troika, depois de levar Vítor
Gaspar para o governo passou a defender o custe o que custar. O governo deixou
de ser liberal para começar a defender uma pinochetada económica.
Os resultados estão à vista a escassa riqueza dos pobres é-lhes
retirada para ser entregue aos ricos, os bancos são financiados pelos
contribuintes e dispensados de pagar juros, a Associação Portuguesa de Bancos
legisla no domínio do crédito. A revolução deste novo Estado Novo é tão rápida
que até os empresários mais conservadores a rejeitam, parece que o governo
defende o regresso da escravatura e quer forçar as empresas a aceitá-lo. Nada
disto está escrito no memorando, estava escrito nos papers desta seita de
Mengeles da economia.