quinta-feira, setembro 27, 2012

A toikofobia

 
Na história do capitalismo ocidental só há memória de adopção de programas de austeridade ao mesmo tempo que se reformatam as economias segundo valores ideológicos com recurso ao medo, o medo da ruína, o medo da miséria, o medo da PIDE; o medo da DINA, o medo das SS. Nunca um governo foi eleito em resultado de um debate que se tivesse proposto a escolher quem enriquece e quem empobrece à margem das regras da economia e da opinião pública, que tivesse defendido medidas de austeridade tão brutais que obrigariam a medidas ainda mais brutais, nunca um governo formado por gente que odeia o povo, que lhe chama piegas, cigarras e sabe-se lá o que lhe chamarão em privado, foi eleito democraticamente.
  
Hitler foi eleito democraticamente, mas sem maioria e só começou a governar com plenos poderes depois de impor a ditadura, antes disso nunca disse que ia querer matar todos os judeus, todos os democratas, todos os ciganos, todos os homossexuais ou todos os deficientes. A cobardia é um dos traços característicos dos ditadores, nunca assumem o que defendem ao não ser quando se sentem com o poder, quando contam com um parlamento de eunucos.
   
Portugal vive hoje com mais medo do que algumas vez viveu desde a implantação da República, ditadores ou democratas sempre enfrentaram as crises afirmando a preocupação em minimizar os sacrifícios do povo, além disso sempre tivemos gente inteligente, nunca se deu o caso de o conselho de ministros mais parecer uma récua reunida no estábulo, Passos Coelho ao lado de Oliveira Salazar corria um sério risco de ser internado por ser um diminuído mental, era assim que se designava e se fazia naqueles tempos.
   
Mas não temos medo da guerra, ou de um tsunami, temos medo da troika, da estupidez criativa de Passos Coelho e da incompetência do Vítor Gaspar, tudo junto significam recessão em doses brutais, desrespeito das regras constitucionais, vingança, ameaça permanente, ofensa à dignidade de todo um povo e de uma nação com muitos séculos.
   
A troika é usada para assustar, aceita que um governo incompetente a use como uma palmatória de oito olhinhos e até se dispõe a ajudar na orgia de medo, como sucedeu com as ameaças de um paspalho de Bruxelas chamado Simon O’Connors.
   
Os portugueses parece não terem o direito de discutir quem deve contribuir mais, como distribuir os custos da austeridade ou que património público deve continuar a ser, tudo é decidido pela troika ou usando esta como ameaça, até se fica com a sensação de que o governo usa a troika para encobrir os excessos fundamentalistas do Vítor Gaspar. Se o ministro das Finanças, que vale um voto, não gosta dos funcionários públicos inventa um desvio colossal e corta-lhes os subsídios, se não acha que os pensionistas são uns inúteis faz-lhes o mesmo, se acha que quem não tem dinheiro que vá ao endireita destrói o SNS, faz o que quer e lhe apetece, até se lembrou de ir ao bolso dos trabalhadores para financiar os empresários menos competente e no fim ninguém assume a responsabilidade, dizem que foi a troika e que fiquem “pianinho” ou vai ser pior.
   
Os portugueses estão a ser sujeitos a uma terapia de medo permanente, de ofensas como a das cigarras, de humilhações como a do piegas que isto vai acabar mal. Um dia destes os portugueses libertam-se das amarras do medo, da humilhação e de ofensas e então é que o Passos Coelho bem pode citar Camões, isso se souber nadar e conseguir salvar a obra vergonhosa que está fazendo em Portugal.