terça-feira, novembro 04, 2014

O homem do fraque

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Excelente imagem do jornal Público
  
Tudo na condecoração de Durão Barroso correu mal, a pressa em realizar a cerimónia, a falta de qualidade dos discursos, o ar de missa do sétimo dia dos convidados. Quem condecorava era um professor de economia com dez anos de primeiro-ministro e outros tantos de presidente, o condecorado é um político que foi primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia durante dois mandatos, era de esperar elevação, classe e discursos para ficar na memória. Em vez disso aquilo parecia a homenagem a um sócio fundador de um grupo excursionista.
  
Como é costume Cavaco não resistiu ao auto elogio e cada suposto elogio que fazia a Durão Barroso era uma oportunidade para se referir ao seu grande eu, Cavaco conhece muita gente, Cavaco esteve lá, Cavaco soube de tudo. Cavaco não se limitou a condecorar Durão Barroso, ele certificou o muito que o país não sabe que lhe deve. Até em processos negociais em que Portugal andou a reboque da Irlanda, como a renegociação das taxas de juro praticadas no âmbito da ajuda europeia devemos tudo a Durão Barroso.

Barroso respondeu com a mesma falta de classe e se Cavaco tentou branquear o seu passado atribuindo ao país uma dívida que este não tem em relação ao ex-presidente da Comissão Europeia este aproveitou a sua oportunidade para justificar o seu golpe, quando abandonou o país quase sem qualquer aviso deixando-o entregue àquele que ficou conhecido por má moeda.
  
Aquilo a que o país assistiu foi ao lançamento por Cavaco de uma pré-candidatura de Durão Barroso à Presidência da República. Barroso ainda não sabe se lhe compensa ou se tem condições para ganhar umas presidenciais, mas pelo sim pelo não vai-se posicionando, foi desta forma que tirou Marcelo Rebelo de Sousa na liderança do PSD e que se fez presidente da Comissão Europeia enquanto em público disse estar a apoiar a candidatura de António Vitorino. Se chagada a altura tiver hipóteses e não ter arranjado um tacho mais confortável Durão Barroso será candidato a Belém.
  
E se a cerimónia roçou o miserável, um pouco como em tudo por onde Durão Barroso passa, o mesmo se pode dizer desta pré-candidatura a Belém. Durão Barroso não foi apresentado como alguém com classe e de dimensão, aparece em Portugal como se fosse o homem do fraque que vem cobrar uma dívida do país, exigindo que essa mesma dívida seja paga em géneros, neste caso com uma estadia de vários anos à mesa do OE e a viver no Palácio de Belém.