segunda-feira, novembro 17, 2014

O lodaçal

Esta estratégia do firme e hirto adoptada por Passos Coelho vai sair muito cara a um PSD que não para de fazer asneiras e de se enterrar em incompetência e agora também em corrupção. O ainda primeiro-ministro bem pode querer fazer passar a imagem de que está firme no comando do governo, que sabe para onde quer ir e que a sua equipa está coesa.
  
Ainda mal se sabia o que se estava a passar e já alguém no PSD dizia que quem iria ao parlamento falar dos vistos gold seria Paulo Portas porque era para isso que ele era coordenador da área económica do governo. Isto é, depois de a ministra Maria Luís ter assumido claramente essa coordenação o PSD lembra-se do estatuto de Portas quando são os seus que fazem fila no campus da Justiça.
  
Na mesma semana em que Passos Coelho remeteu para o próximo ano a discussão da coligação vê-se confrontado com a necessidade de fazer uma remodelação governamental em condições de desvantagem face ao CDS, todos os ministros vulneráveis em consequência de processos judiciais, de incompetência e mesmo de má fé governativa são do PSD. Pior ainda, todas as suspeitas de que se fala à boca pequena nos corredores do poder apontam para personalidades do PSD.
  
A última vez que o governo foi remodelado o CDS conseguiu ocupar a pasta da Economia enquanto Paulo Portas passava a vice-primeiro-ministro e coordenador das pastas económicas. Mais uma vez o PSD pode vir a ter de promover uma remodelação governamental numa situação de fragilidade, estando mais uma vez nas mãos do CDS, que não só defenderá os seus ministros e secretários de Estado como terá a oportunidade de se reforçar no governo.
  
Desde o Verão que Passos Coelho está em queda e sempre que um problema é esquecido isso resulta do facto de surgir um novo problema. O Crato ajudou a aliviar a pressão no caso BES, a PT ajudou a esquecer o Crato, o Citius adiou a PT, os vistos fazem esquecer o Citius, o inquérito parlamentar do BES fará esquecer os vistos e o próximo escândalo fará esquecer o inquérito parlamentar. Pelo meio o Presidente diz umas banalidades, o Bobo da Horta Seca faz figuras tristes no parlamento, dia sim, dia não, aparece alguém a fazer alguma asneira.
  
Já ninguém liga ao crescimento da economia, ao carro do e-fatura, ao aumento brutal do IMI, às penhoras de casas, ao IVA que os restaurantes não pagam mas insistem em baixar a taxa para receberem mais no reembolso do que pagaram aos fornecedores, a austeridade, a condenação da Função Pública à miséria. Os portugueses agora discutem o ministro idiota, as garrafas de vinho do chefe do SEF, as limpezas informáticas feitas pelo SIS, as baboseiras do Pires de Lima.
  
O país entrou num lamaçal de onde só sairá daqui a um ano, tudo será adiado porque Cavaco resiste a dar posse a um governo que lhe faz lembrar o último que ele ajudou a derrubar, porque Passos Coelho ainda tem uns negócios combinados e porque os deputados da maioria receiam o desemprego. António Costa pede eleições antecipadas mas quanto mais tarde se realizarem as eleições mais ganha o PS, Cavaco aposta em atrasar o mais possível a realização dessas eleições mas sabe que quanto mais tempo passar mais forma ganha o "fantasma" do Sócrates, Passos Coelho quer ter o poder enquanto pode e Portas sabe que a sua estratégia de se amancebar com o PS falhou e que depois de sair do governo fica exposto a todas as intempéries. Entretanto, há um país que se lixa e se afunda, liderado por um governo e por uma presidência que estão num estado adiantado de decomposição.