quarta-feira, junho 17, 2015

A regra da obediência

Numa visita oficial à República Checa Cavaco Silva ficou calado e sem responder à provocação do presidente daquele país que sugeriu aos portugueses "Por favor não digam a ninguém que têm um défice maior que o nosso [cerca de 5%]". Este é o mesmo presidente que volta não volta vem-nos com os elogios que lhe fazem a Portugal pelos grandes sucessos do seu governo, mas devem ser políticos muito envergonhados ou que não se querem comprometer pois só dizem essas coisas ao ouvido de Cavaco Silva.
  
Este é o mesmo senhor que em tempos tinha um ministro das Finanças que afirmava que numa Europa em crise Portugal era um oásis, talvez por gostar destas imagens paradisíacas acabou junto à manjedoura orçamental no Instituto da Medicina Tropical. É o homem que agora se gaba das vitórias eleitorais mas esquece a forma como atirou Fernando Nogueira para a derrota julgando que isso o ajudaria a derrotar Jorge Sampaio nas presidenciais, ironia do destino aquele que então detestou e agora trata como filho pródigo prefere Nogueira para candidato presidencial aos putativos candidatos da direita.
  
Este é o mesmo senhor que tirou o tapete a um governo determinando a obediência nacional aos mercados, numa estratégia descarada de derrubar um governo para lá ficar outro governo da sua confiança e pelo qual faz agora campanha, enquanto se sente aliviado por ver um primeiro-ministro a ser devidamente castigado, quis o destino que a Procuradora-Geral fosse de uma boa família, filha do seu velho director nacional da PJ.
  
Não me parece que a estratégia negocial do governo grego seja das mais inteligentes, começou com a provocação à Alemanha recorrendo ao seu passado nazi, durante meses fez de conta que fazia contrapropostas e por quase uma dezena de vezes fontes do governo grego informara que o acordo estava por horas, agora esqueceu os nazis e descobre um FMI criminoso. Com tudo isto tem perdido apoios e simpatias e ganho a aversão dos eleitores dos países que poderiam ajudar a Grécia, o mesmo governo que afirma a soberania da vontade popular do seu país sobre as decisões de toda a Europa faz tudo para conseguir a animosidade dos eleitores dos outros países.
  
Mas o que está em causa não é cumprir as regras pois talvez Cavaco não saiba ou não esteja em condições para o perceber, mas até ao momento nenhuma instituição ou internacional acusou o governo grego de incumprimento de normas de um tratado ou de qualquer acordo internacional de que seja parte contratante. O que o governo grego está fazendo é defender legitimamente os seus interesses e está no seu direito não aceitar os argumentos que por pá foram utilizados para tentar sair de uma crise que foi internacional à custa dos mais pobres, dos tais cujas pensões e salários já não chegam mesmo para as despesas.
  
É uma vergonha que estando em causa a defesa de interesses nacionais e uma discussão em torno das causas e responsabilidades de uma crise financeira internacional haja alguém que venha com este argumento saloio das regras e das obediências. De que regras fala Cavaco Silva, dos cortes em despesas nas PPP que não foram feitos, nas reduções do custo da energia que estava no memorando e não se verificou, na eliminação dos serviços de finanças que ainda estão abertos, na reestruturação do Estado que não foi feita? Mas há outras regras que importa lembrar, será que Cavaco se refere às regras constitucionais que ele ignorou por várias vezes para ajudar um governo que tentou governar sem regras?

Não, Cavaco não se refere a esta regras, as regras do memorando só interessam se forem para ajudar os poderosos, as regras Constitucionais são para ignorar, Cavaco só defende a obediência cega a regras que mesmo pondo em causa a soberania e interesses nacionais favoreçam os seus, o pessoal dos BPNS.