Depois da famosa denúncia dos esqueletos no armário durante
as negociações do memorando com a Troika a direita tem feito passar a imagem de
um país de contas transparentes, a ministra das Finanças não perde a oportunidade
de o afirmar. Uma boa forma de acabar com esta falsa imagem de uma direita de
contas certas e transparentes seria recordar o que por aí se vai dizendo de
Marco António, o Big Mac para os amigos e Marquinho para a mamã. Mas deixemos
isso ao famoso curso da justiça, um imenso rio que por estas bandas é manso
quando corre para a direita e bravo quando corre mais para a esquerda.
Como se veio a provar não existiam esqueletos no armário e
as contas de hoje não são mais transparentes do que eram, o que se fez foi uma
mera alteração de regras contabilísticas. Já o mesmo não se pode dizer da
manipulação das previsões económicas que servem para sustentar défices inalcançáveis,
ou, pior ainda, a manipulação da contabilização das recitas fiscais, como
sucede com a retenção de reembolsos do IVA com o argumento de suspeita de
irregularidades, truque já usado no passado por Manuela Ferreira Leite quando
precisou de inventar receitas fiscais.
Mas um país não vive apenas da contabilidade dos recursos
financeiros do Estado, há contabilidades dos mais diversos domínios, desde a saúde
ao emprego e neste capítulo este governo tem sido useiro e vezeiro em
aldrabices. Na saúde nuns dias ouvimos o ministro dizer que o SNS quase foi refundado
por ele que está melhor do que alguma vez foi, no dia seguinte são publicados
estudos que demonstram o contrário, ficamos a saber de dados relativos a camas
e a outros indicadores hospitalares que o ministério esconde.
Tal como na saúde também no emprego o país vive de mentiras.
São mentiras mais do que óbvias pois é impossível que uma economia sem
investimento público ou privado e sem crescimento económico consiga criar
emprego. O país tem assistido a uma imensa manipulação de dados onde vale de
tudo, confunde-se de forma cínica a emigração com a criação de emprego, multiplicam.se
os cursos de formação profissional de qualidade duvidosa para fazer desaparecer
os desempregados, confunde-se os que desistem de procurar emprego com novos
empregados e até vão transformar os desempregados em falsos bombeiros só para
os queimar nas estatísticas.
Quem ouve o discurso governamental vive num país irreal,
somos de novo o oásis da Europa, já estamos a pagar a dívida e mesmo assim os
cofres transbordam de dinheiro, caminhamos rapidamente para o pleno emprego,
somos um verdadeiro tigre asiático no domínio das exportações e até dizem que vamos ser o país mais competitivo do
mundo. Em cima disto tudo temos uma economia livre como nunca foi, a TAP vai
entrar nos eixos, os transportes públicos vão dar lucro e com o merceeiro holandês
a gerir o Oceanário ainda vamos voltar a ser um grande exportador de conservas
de sardinha.
A verdade é que o país é um imenso armário onde se escondem
as camas dos hospitais e dos centros de recuperação sem utilização enquanto os
doentes morrem nas urgências, onde são metidos os que vivem da sopa dos pobres
enquanto o governo fala do sucesso da economia social, onde estão os
empresários vítimas das manipulações da receita fiscal conseguidas com
retenções oportunista de reembolsos do IVA.