quinta-feira, junho 25, 2015

Um país transformado num imenso armário

Depois da famosa denúncia dos esqueletos no armário durante as negociações do memorando com a Troika a direita tem feito passar a imagem de um país de contas transparentes, a ministra das Finanças não perde a oportunidade de o afirmar. Uma boa forma de acabar com esta falsa imagem de uma direita de contas certas e transparentes seria recordar o que por aí se vai dizendo de Marco António, o Big Mac para os amigos e Marquinho para a mamã. Mas deixemos isso ao famoso curso da justiça, um imenso rio que por estas bandas é manso quando corre para a direita e bravo quando corre mais para a esquerda.
 
Como se veio a provar não existiam esqueletos no armário e as contas de hoje não são mais transparentes do que eram, o que se fez foi uma mera alteração de regras contabilísticas. Já o mesmo não se pode dizer da manipulação das previsões económicas que servem para sustentar défices inalcançáveis, ou, pior ainda, a manipulação da contabilização das recitas fiscais, como sucede com a retenção de reembolsos do IVA com o argumento de suspeita de irregularidades, truque já usado no passado por Manuela Ferreira Leite quando precisou de inventar receitas fiscais.
 
Mas um país não vive apenas da contabilidade dos recursos financeiros do Estado, há contabilidades dos mais diversos domínios, desde a saúde ao emprego e neste capítulo este governo tem sido useiro e vezeiro em aldrabices. Na saúde nuns dias ouvimos o ministro dizer que o SNS quase foi refundado por ele que está melhor do que alguma vez foi, no dia seguinte são publicados estudos que demonstram o contrário, ficamos a saber de dados relativos a camas e a outros indicadores hospitalares que o ministério esconde.
 
Tal como na saúde também no emprego o país vive de mentiras. São mentiras mais do que óbvias pois é impossível que uma economia sem investimento público ou privado e sem crescimento económico consiga criar emprego. O país tem assistido a uma imensa manipulação de dados onde vale de tudo, confunde-se de forma cínica a emigração com a criação de emprego, multiplicam.se os cursos de formação profissional de qualidade duvidosa para fazer desaparecer os desempregados, confunde-se os que desistem de procurar emprego com novos empregados e até vão transformar os desempregados em falsos bombeiros só para os queimar nas estatísticas.

Quem ouve o discurso governamental vive num país irreal, somos de novo o oásis da Europa, já estamos a pagar a dívida e mesmo assim os cofres transbordam de dinheiro, caminhamos rapidamente para o pleno emprego, somos um verdadeiro tigre asiático no domínio das exportações e até  dizem que vamos ser o país mais competitivo do mundo. Em cima disto tudo temos uma economia livre como nunca foi, a TAP vai entrar nos eixos, os transportes públicos vão dar lucro e com o merceeiro holandês a gerir o Oceanário ainda vamos voltar a ser um grande exportador de conservas de sardinha.
 

A verdade é que o país é um imenso armário onde se escondem as camas dos hospitais e dos centros de recuperação sem utilização enquanto os doentes morrem nas urgências, onde são metidos os que vivem da sopa dos pobres enquanto o governo fala do sucesso da economia social, onde estão os empresários vítimas das manipulações da receita fiscal conseguidas com retenções oportunista de reembolsos do IVA.