segunda-feira, junho 15, 2015

Assim também eu comprava a TAP

Depois de terem dito que meio mundo fez uma directa para analisar as propostas, depois dos elogios do presidente da TAP, depois de tanta gente a dizer que a TAP tinha sido salva não resisti à tentação de conhecer os pormenores do negócio. Não sendo um grande defensor de uma TAP paga por todos nós, e ainda menos o sou depois de ter percebido que os seus próprios trabalhadores deixaram de ser contra a privatização a troco de mais umas benesses, tinha a esperança de que o Estado tivesse feito um bom negócio.

Por aquilo que a TVI divulgou só há uma coisa a dizer , assim até eu tinha comprado a TAP, a única diferença entre mim e os Barraqueiros é que eles percebem mais do negócio do que eu, mas isso é irrelevante, a TAP existe desde 1945, dois anos antes de nascer Humberto Pedrosa, e catorze antes de ter nascido o David Neeleman, e não lhe devem faltar quadros que percebam do negócio.
  
Ora, se a TAP tem uma experiência de 70 anos, se tem quadros de gestão altamente qualificados e os novos donos até vão manter o actual presidente, o que é uma grande surpresa depois da militância demonstrada em torno desta venda(!), a venda só se explica porque os tais empresários podem injectar o capital que o Estado não pode porque supostamente isso viola as leis da concorrência da EU. Foi assim que nos venderam a ideia da privatização, que uma gestão privada é superior à gestão pública e porque  haveria uma injecção de capital.  
  
Vejamos, então, quanto é que os novos investidores vão investir na TAP e comecemos por um dos argumentos mais usados, o de que a curto prazo a TAP iria ter problemas de tesouraria. Pois ao que aprece os nossos investidores vão conseguir um empréstimo de 10o0 milhões de euros. Mas o que vão os novos investidores fazer que o Estado não poderia fazer por causa dos malandrecos de Bruxelas? Os grandes investidores vão vender alguns aviões por 1100 milhões? Obrigado, vou ali e já volto.
  
Ao que parece vão injectar 338 milhões e até vão melhorar o balanço com uma injecção adicional de 100 milhões. E como vão conseguir estes 100 milhões? Imagino que já tenham adivinhado, vão vender aviões! Enfim, vou ali e já volto, está assegurado o financiamento por mais 18 euros que o Estado não conseguiria.
  
Outra grande promessa dos investidores privados era a de que iriam aumentar a frota, sugerindo que comprariam aviões. Bem , por aquilo que já vimos ainda não entrou um único avião e a frota já foi parcialmente vendida para conseguir os tais capitais que só os privados poderiam injectar na empresa.  Os privados começam por vender 1100 milhões em aviões e comprometem-se a financiar 250 milhões para apoiar a renovação da frota em 2016 e 2017. Mas vão mesmo meter esse dinheiro? Não, vão conseguir financiamento., coisa que, como se sabe uma empresa sendo do Estado não consegue.
  
E porque é que uma empesa do Estado não consegue um financiamento? Porque o Estado não pode assumir essa dívida, explicam os defensores da privatização. Pois é, mas os novos investidores privados dizem que vão renegociar a dívida, admitindo ainda que poderão contrair mais empréstimos antes de concluída a privatização … mas sendo o Estado responsável! Isto é, o Estado não pode injectar dinheiro nem assumir empréstimos porque Bruxelas não deixam, mas já pode fazer empréstimos antes de concretizada a privatização assumindo as responsabilidades e faz isto a pedido dos futuros donos. Isto é, o Estado recebe 10 milhões de euros pela venda da TAP mas assume a responsabilidades por novos financiamentos da TAP, os tais que não podia fazer e que justificavam a privatização. Mas o governo diz que não é bem assim, que só vai dar uma ajuda. Compreende-se, como diria Cavaco Silva  nem os Barraqueiros, nem o Neelemansabem dessas coisas de financiamentos bancários com termos em inglês! Digamos que o Estado os vai ajudar com um tradutor e ainda lhes empresas um carro para irem até ao banco!
  
O país também pode estar descansado pois o nosso amigo Neelemanvai resolve os problemas mas com o “apoio significativo” do Estado em processos laborais, fiscais e legais. Por outras palavras, o Estado poupa nos impostos em Portugal por conta dos prejuízos no Brasil financia as indemnizações por despedimentos e ainda procede a algumas alterações da lei se for necessário. Mas o Neeleman tem outro grande trunfo na manda, diz ele eu o Banco de Desenvolvimento Brasileiro pode entrar para a Gateway, algo que certamente já foi confirmado pelo governo português!
  
Como era de esperado senhor Fernando Pinto tem o futuro assegurado e não seria de admirar que terminada esta legislatura alguém deste governo que fique desempregado também seja convidado para ser uma espécie de Eduardo Catroga da TAP. Resta explicar como é que o Estado vai ganhar mais algum com a privatização, quando vender os 34% com que fia dispersando o capital na bolsa, isso se a TAP ainda existir nessa altura.

Estamos perante um milagre, os privados só metem 338 milhões, mas em 2020 a empresa que agora tem capitais negativos na ordem dos 500 milhões vai passar a ter 2.300 milhões. Com milgares destes eu não tinha vendido a TAP ao Barraqueiro, vendia-lhe o Algarve e ainda lhe oferecia as Berlengas a título de bónus. E como é que se explica este novo milagre dos papo-secos? Os privados vão vender o património da TAP para se financiar e passar a usar aviões alugados!
  
O mínimo que se pode dizer deste negócio é que não se trata de uma venda ao Barraqueiro, é sim uma grande barracada. Não precisavam de ir tão longe e trazer o Neeleman, bastava ir à Rua Augusta pois da forma como a TAP vai ser vendida qualquer sem-abrigo poderia comprá-la, porque o Fernando Pinto faria o resto com o apoio e as garantias do Estado. Um negócio destes é digno da imaginação criativa de alguém dado a grandes tramóias como parece ser o caso do nosso procurador Rosário Teixeira.