Cada vez que a taxa de desemprego o governo festeja, o Lambretas comemora o seu feito e o Paulo Portas, um político cuja fisionomia faz lembrar um abutre, chama tudo e todos de ave agoirenta. Acontece que há algo de muito estranho no facto de o desemprego descer sem se ouvir falar de investimento, de obras públicas ou de criação de empresas. Antes pelo contrário, na TAP receiam-se despedimentos, na Makro prepara-se um despedimento colectivo e em muitas empresas as notícias são mais os despedimentos do que a criação de empregos.
Provavelmente há alo de verdade no facto de haver mais emprego sem que se fale de investimentos, talvez se possa explicar porque há tantos desempregados a desistirem de procurar emprego ou no facto de a economia crescer apesar de o governo fazer tudo para que suceda o contrário. A verdade é que há uma vasta economia que não está sujeita à austeridade, uma verdadeira economia liberal onde não há regras, nem impostos, nem contribuições.
O governo tem passado a mensagem do combate à evasão fiscal confundindo fenómenos não coincidentes, tentando dizer que quando a receita fiscal aumenta é porque a economia paralela encolhe. Pura ilusão, quando a receita fiscal aumenta à custa dos que cumprem há um estímulo competitivo para os que não cumprem. A eficácia fiscal do Paulo Núncio refere-se apenas aos cidadão cumpridores, nada se faz em relação aos ricos (como se viu com as energéticas) ou com os que estão fora da legalidade.
Todos os trabalhadores que conheço no meu bairro e que perderam o emprego com a crise ou estão reformados ou trabalhando no paralelo, uns ainda acumulam o salário livre de impostos e de contribuições sociais com o subsídio de desemprego, outros juntam ao salário no paralelo com pequenos biscates livres de impostos e ganham tanto ou mais do que antes da crise. Fala-se muito da evasão fiscal e muito pouco da evasão contributiva, a hipocrisia chega ao ponto de um ministro que instalou a bandalheira contributiva na segurança social aparecer armado em bonzinho sempre que o fisco é criticado.
O problema é que no dia em que o Lambretas se gabar de que Portugal atingiu o pleno emprego a Segurança Social terá de declarar falência pois os falsos empregos criados pelo ministro do CDS e o paralelo não são as melhores fontes de financiamento do sistema. Este governo não só não tem qualquer política de emprego como ainda está destruindo a sustentabilidade da Segurança Social. Nas escolas, nos hospitais, nas pensões, na justiça a estratégia é a mesma, fazer implodir o Estado Social a partir de dentro para depois o declararem insustentável.