A tese da oposição de que Cavaco Silva está ajudando a coligação da direita tem um pequeno senão, Cavaco não tem prestígio suficiente para que as suas intervenções levem os portugueses a votar neste governo. Antes pelo contrário, Cavaco Silva é um presidente sem qualquer prestígio e mesmo muitos dos que votaram nele para primeiro-ministro ou para Presidente da República percebem que o seu papel na política portuguesa foi demasiado nefasto para o país.
Cavaco sabe muito bem que os seus discursos laudatórios em nada ajudam o governo, ele sabe que quem ainda o ouve já vota na direita e quem não o ouve e ainda vota na direita perde a vontade de o fazer sempre que ele abre a boca. Ainda por cima, Cavaco nada diz que alguém do PSD ou do CDS ainda não tenha dito, nos seus comentários Cavaco tende a imitar o humor imbecil de Paulo Portas, o político que ele mais odiou a seguir a José Sócrates. A única virtude das intervenções de Cavaco é o de desviar o debate dos problemas.
Os discursos de Cavaco deixaram de ser cerimónias oficias de Estado, é um circo itinerante de um espectáculo de ventriloquismo em que alguém do PSD ou do CDS fala sem mover os lábios e todos pensamos que é Cavaco a falar. O problema é que os espectadores que mais detestam este espectáculo nem são os da esquerda, são os da direita que não se gostam de ver retratados em discursos com tanta pobreza de espírito, cheios de ódios e de ressentimentos e com argumentação de qualidade questionável como são as sensações de alívio de Sua Excelência.
Mas o pobre senhor sofre porque ao longo de toda uma vida conseguiu tudo menos aquilo que seria de esperar de alguém que como o próprio se gaba ganhou de ter ganho quatro eleições com mais de 50% dos votos. É um Presidente da República que larga Belém sem a admiração dos portugueses, quando abandonar Belém não vai para o lado onde estão Eanes, Soares e Sampaio, vai para o outro lado, onde ficará ao lado de Carmona e de Américo Tomás.
Cavaco sabe muito bem disso, sempre o receou e usou uma boa parte da sua acção na Presidência da República para limpar a imagem que tinha deixado aquando da sua passagem por São Bento. Daí as homenagens a Salgueiro Maia e os seus roteiros opor onde nunca tinha passado enquanto primeiro-ministro. Mas Cavaco teve azar, diria mesmo que teve aquilo que designamos por um “azar do caraças”, saiu-lhe em sortes um primeiro-ministro que não o ajudou nesta tarefa. Fiel a si próprio fez o que fez e desde então nunca mais se endireitou, e os portugueses ainda ficaram a saber dos seus sucessos mobiliários e imobiliários.
Cavaco não está tentando ajudar o governo, antes pelo contrário, Cavaco tenta agarrar-se que nem um emplastro ao governo na esperança de um resultado eleitoral que não seja uma humilhação. Cavaco está convencido de que com uma vitória do governo nas eleições ou com uma situação de ingovernabilidade é ele o vencedor e por isso cobra agora ao PSD e ao CDS os favores que lhes fez ao longo de dois mandatos, forçando-os a carregar com ele colado às suas costas.