Na Administração Pública portuguesa há os bons e os maus, neste momento os bons é o pessoal da Segurança Social com o bondoso Mota Soares à frente e os maus são os bandalhos do fisco liderados pela pérfida Maria Luís e por um Paulo Núncio que em tempos era muito mau mas ultimamente parece ter optado pelo estatuto conveniente de mau arrependido. A cobrança dos impostos foi entregue aos mauzinhos do Núncio, os bonzinhos cobram as contribuições sociais e são lideraddos por esse exemplo de bondade que é o Mota Soares.
Os maus são uma gente sem sentimentos, obrigam-nos a pagar impostos, mandam-nos emails a visar dos prazos e das obrigações declarativas, cobram as dívidas do Estado. Os bons são tão bonzinhos e não fazem nada disso, quem quiser pagar as contribuições sociais paga e quem não quiser pagar não paga que mais tarde ou mais cedo tudo prescreve, quem quiser ficar isento de obrigações contributivas limita-se a não as declarar, mas se as declarar e não as pagar pode ficar descansado porque não será incomodado se optar por se esquecer de cumprir com as suas obrigações.
Os maus inventam esquemas maldosos para combater a evasão fiscal, cruzam dados, fazem inspecções, lançam o e-fatura, coisas que os bonzinhos não fazem. As dívidas fiscais estão em queda, a evasão fiscal é combatida, os impostos são para pagar. Do lado da Segurança Social é só bondade, as dívidas aumentam, a evasão contributiva é a regra.
Os maus prejudicam a economia, os restaurantes andam danados por terem de pagar 23% de IVA quando dantes a taxa era bem mais pequena e mesmo essa só servia para efeitos decorativos. Os bonzinhos não prejudicam ninguém com as suas cobranças e graças ao aumento do paralelo ainda dão uma preciosa ajuda para a taxa de desemprego pois quem trabalha no mercado negro não pede ao IEFP que lhe arranje emprego e deixa de contar para as estatísticas, é como se tivesse emigrado cá para dentro.
Os bons são tão bonzinhos que na hora de quererem saber se alguém lhes ficou a dever as contribuições sociais pedem aos maus que exijam um anexo SS, mas não confundam pois esse SS nada tem que ver com os outros, é um SS de Segurança Social. Mas ao contrário dos maus que a acreditar na Manuela Ferreira Liete cobram coimas a torto e a direito, os bonzinhos não cobram quaisquer coimas, mesmo quando elas estão previstas na lei vem o ministro bonzinho dizer que Portugal é uma espécie de junta de freguesia onde é ele o presidente da junta. E não importa o que está na lei, como ele é o presidente da junta decide que só declara quem quer e ninguém paga coima.
Dos bonzinhos todos falam bem, os governantes são simpáticos com eles. Dos mauzinhos todos falam mal, a mesma Manuela Ferreira Liete que exigiu saber quem tinha consultado a sua situação fiscal quando era ministra queixa-se agora da lista VIP, ela que só não foi pregada a cruz porque os maus cobraram as dívidas que vendeu ao City queixa-se agora das perseguições fiscais, ela que fez a reforma do património acha agora um abuso a aplicação da lei que criou.
Os bonzinhos pediram aos mauzinhos para que lhes declarassem o que ganham, mas como foram incompetentes e lançaram a confusão decidiram meter o rabinho entre as pernas como fazem os bonzinhos e optaram por ignorar a lei.
Os maus são tão maus que ninguém os defende, a ministra nunca abre a boca e o Núncio que gostava de ser mau nos tempos em que prometia a devolução da sobretaxa ficou calado desde que pediu o estatuto de mauzinho arrependido, na esperança de ainda vir a tempo de discutir com o bonzinho da Segurança Social ou com a outra tontinha o lugar de Paulo Portas.
É assim a direita que diz que na sua matriz está a autoridade do Estado, dividem a Administração Pública em bons e em maus, sendo bons os que fazem vista grossa e maus os que tentam cumprir a lei, a mesma lei que os bonzinhos não hesitam em afirmar que não é para cumprir. Esta gente não tem o mínimo de escrúpulos na hora de se safarem e de tentarem sobreviver politicamente e não hesitam em destruir os que com eles colaboraram ou em difamar instituições do Estado para não terem de assumir as suas responsabilidades, a bandalhice é tanta que um ministro vem esclarecer que a lei não é para cumprir.
Quando pensavam subir com o argumento do combate à evasão fiscal não se cansavam de aparecer, agora que algo corre mal no plano eleitoral querem passar por santos e não hesitam em difamar as instituições do Estado, da mesma forma que não têm escrúpulos em perdoar coimas sem se darem ao trabalho de alterar a lei que estão obrigados a cumprir. Os antigos defensores do rigor são agora promotores da bandalheira e não hesitam em desprestigiar as instituições públicas numa luta desesperada pela liderança de um partido que só sobreviverá às próximas eleições porque Passos Coelho decidiu transformá-los nos segundos Verdes do parlamento.