Nos últimos anos deixou de se fazer a distinção entre dinheiro e capital, para se ser mais preciso diria a diferença entre algum ou muito dinheiro e capital. Salvo se o dinheiro for de russos ou se suspeite ou possa dizer-se que pertence a políticos caídos em desgraça aos olhos de alguns sacerdotes, todo o dinheiro é bem-vindo.
A situação é tão ridícula que aqueles que se escandalizaram com uma aliança do PS com os partidos à sua esquerda e que alertaram para o perigo comunista não hesitam em oferecer-se para defensores do dinheiro vindo de Angola ou da China, até lhes dão vistos ditos de ouro para que possam viajar e estabelecer-se na tal Europa cuja sobrevivência foi posta em causa por António Costa.
Também tem o seu quê de ridículo ver os que promoveram uma eugenia nas empresas em nome dos famosos produtos transaccionáveis, levando à falência milhares de empresas de sectores de actividade considerados parasitários da economia, como a restauração ou a construção civil, são agora defensores de dinheiro que venha de paraísos ditatoriais para comprarem vivendas de luxo ou, muito simplesmente, ficar depositado nos bancos portugueses.
Temos agora alguns opinion makers que num dia se desdobram em entrevistas para explicar que a colocação de uma boa parte dos recursos financeiros lá fora pode ser legal e faz parte do negócio, no dia seguinte defendem a vantagem de virem para Portugal meia dúzia de milões das corrupção chinesa ou angolana. Uns dias depois andam muito preocupados com o branqueamento do dinheiro russo na SAD de Leiria, com a forma como os amigos de Sócrates gastam o dinheiro ou com a crise no mercado das carnes vermelhas.
Mas o mais grave está no facto de se confundir dinheiro com capital, com o falso argumento de que ao entrar no circuito bancário o dinheiro sujo dos amigos é milagrosamente transformado em capital a investir, financiando o sistema financeiro e a economia. É por isso que devemos dar o rabo e cinco tostões a todo o general angolano ou corrupto chinês que nos traga umas malas de dinheiro.
Confunde-se dinheiro sujo com capital, da mesma forma que se designa por investimento toda e qualquer transferência de propriedade pública para capitais chineses. Um bom exemplo disso foi o que sucedeu com a venda da EDP, os comunistas chineses prometeram investir uns milhões e compraram à EDP que já era sua os investimentos estrangeiros em renováveis.
A economia portuguesa está transformada numa economia de capitais oportunistas que não lhe trazem qualquer competitividade, que não se enquadram em qualquer modelo de desenvolvimento a médio e longo prazo. Basta ver quem vai dar entrevistas em Angola, quem se opõe à “judicialização das relações” com regimes corruptos e quem defendem estes novos investidores para se perceber que anda por aí muito burro alimentado a pão-de-ló. Depois das especiarias, do ouro do Brasil, do comércio de escravos, do ouro do Brasil, da industrialização forçada e apoiada na PIDE e dos fundos comunitários, as nossas elites descobriram uma forma de continuar a a encher a mula, comissões sobre dinheiro e negócios duvidosos.