Até há pouco tempo era pouco aconselhável o consumo de carne de porco e a constituição de empresas offshores suscitava muita dúvidas, mas graças aos nossos jornalistas, gastrónomos, advogados e outros manipuladores da opinião pública tudo mudou, quem não come carne de porco não é nem bom chefe de família (se é que a falta desse consumo não lhe prejudica a capacidade de se reproduzir) e português que não tem uma offshore é porque não precisa de ser honesto.
A imagem do português digno implica estar numa ilha paradisíaca com as despesas honestamente pagas, comendo torresmos ao pequeno almoço, febras de porco preto ao almoço, sandes de courato ao lanche e entremeada ao jantar. E se exigir que a iguaria seja de origem nacional melhor, por aquilo que dizem os suinicultores os porcos empregam 200.000 portugueses, um sinal dos novos tempos, são quase um quinto daqueles a que no tempo de Salazar era o vinho que dava de comer.
Quem deve estar sentindo uma pontinha de inveja são os fabricantes de cigarros que assistem aos suinicultores e aos advogados das fundações a usarem com resultado os mesmos argumentos que em tempos eram usados pela industria tabaqueira para dizer que os malefícios do tabaco era uma pura coincidência cuja relação não estava cientificamente provada.
A verdade é que se dantes eram o vinho que dava de comer aos portugueses, agora são advogados, jornalistas e especialistas a soldo que lhes turvam a vista e em pouco tempo a Organização Mundial de Saúde passou a ser tratada como uma organização incompetente e as offshores são tratadas como empresas fundamentais para o crescimento económico do país. E como era de esperar os Panamá Papers já devem ter desaparecido num qualquer WC público.
A montanha pariu um rato, os Panamá Papers serviram apenas parar vender mais uns quantos exemplares do semanário do Pinto Balsemão, para o inspector do fisco ter mais uma pista para escavar na busca de provas contra Sócrates e para atribuir mais umas malandrices ao Ricardo Salgado, que se transformou num saco de boxe de políticos e jornalistas às voltas com a sua consciência corrupta.