Há pouco tempo foram detidos dois inspectores da Polícia Judiciária acusados de vender informações a traficantes de droga, ainda mais recentemente foi tornada pública a suspeita de que funcionários do fisco andariam a vender segredos ficais, agora um suposto espião andaria a vender segredos aos russos. Suposto espião porque ao que parece os nossos espiões não espiam nada, estão em gabinetes de Lisboa a analisar informação que outros espiam, seja os espiões de outros países ou pequenos bisbilhoteiros de empresas de telecomunicações.
Não deixa de ser divertido que no país onde tudo se sabe e há muito que não há segredos, o que esteja a dar é precisamente vender segredos. Talvez por isso, á uns tempos atrás se tenha assistido a tanta agitação por causa do acesso ao segredo fiscal dos cidadãos, até ouvimos alguns sindicalistas defenderem que o acesso aos segredos de cada um era um direito profissional inalienável dos funcionários do fisco. Na ocasião o que se defendeu não era o direito ao segredo, mas antes a desbunda, isto é, ninguém devia estar acima do cidadão comum na hora de sabermos dos seus segredos fiscais.
Que argumentos terão levado a Arrow Gloal a contratar Maria Luís Albuquerque? O que terá a ex-ministra de especial para que seja contratada por uma empresa que compra dívida aos bancos num país onde estes estão intoxicados até às orelhas? Dir-se-ia que é a experiência, ora a experiência aqui não e mais do que a de ter estudado os dossiers, dossier que estão cheios de segredos.
Até o Jorge Jesus foi para o SCP cheio de segredos, sabia de tudo e mais alguma coisa, das metodologias seguidas no clube que se tornou o seu ódio de estimação. Muito provavelmente até sabia do segredo das prendas de cortesia aos árbitros, muito provavelmente, como sucede em todas as empresas, ele próprio deve ter ficado com algumas dessas prendas de cortesia com que muito provavelmente brindava os seus próprios interlocutores.
Dantes vendiam-se favores, mas parece que com a crise o grande negócio são os segredos, os políticos levam os segredos para o privado, os gestores vendem os segredos à concorrência, os treinadores valorizam-se vendendo segredos aos clubes rivais, nunca foi tão verdade que o segredo é a alma do negócio. Mas foi-se mais longe, a venda de segredos é o grande negócio e quando já não conseguimos ter segredos nossos fazemos como o espião, os treinadores ou os políticos, vendemos os segredos dos outros.