Como somos todos parvos acreditamos que os tais cidadãos estrangeiros sobre cujos pedidos de vistos Gold Marques Mendes queria saber do “andamento” eram gente das suas relações. Aliás, não é difícil de imaginar uma boa parte da população da Península Ibérica é tanto das suas relações como o eram os estrangeiros que pediram vistos Gold. Mas passemos à frente, Marques Mendes é um cidadão tão empenhado no crescimento económico do país que,m certamente, estava preocupado com a possibilidade de estes investidores estrangeiros abandonarem o país.
Mas o que mais me incomoda na notícia da Visão que dá conta das escutas de que Marques Mendes é o nível ético e moral de alguém que foi membros de vários governos, que liderou um dos maiores partidos portugueses e que foi candidato a primeiro-ministro. A forma como se refere a mortos e feridos líbios ficam muito aquém dos padrões considerados minimamente aceitáveis para os nossos valores civilizacionais.
O Marques Mendes privado é bem diferente do Marques Mendes público, do Marques Mendes dos domingos à noite, dos comentários bem penados, das inconfidências governamentais, das lições de moral e das exigências aos políticos. O Marques Mendes privado que se ouviu nas escutas é um labrego sem a mais pequena consideração pelos tais valores da vida humana.
Vale a pena ler os comentários de Marques Mendes sobre as vítimas de combates na Líbia, estando em causa a vinda de feridos para tratamento em hospitais privados pertencentes aos seus amigos:
« A conversa seguiu com os dois interlocutores concentrados na parte negativa. Era preciso, dizia Marques Mendes, ver se a situação acalmava, se “não se matam todos”. Jaime Gomes sugere que até era melhor que não morressem: “Quanto mais feridos houver, mais oportunidades existem.” E continuou, entre risos, fazendo uma comparação com a história do cangalheiro que tinha uma funerária no hospital e dizia:
“Não quero que ninguém morra, mas quero que a minha vida corra.” Marques Mendes concordou: ali era a mesma história, só convinha era que “os gajos” não morressem. Mas se ficassem nem que fosse um pouco “tortos”, isso até daria “jeito”, ironizou.» [Visão]
É assim que fala o homem que defende a vida, que está sempre do lados dos bons valores da Igreja e que critica tudo e todos. Em qualquer país europeu este senhor já teria sido banido das televisões e teria vergonha de sair à rua.