Quase ninguém reparou, mas esta Taça de Portugal teve um
pequeno mas muito grande pormenor, uma grande reversão no relacionamento entre
povo e instituições. Desde que Durão Barroso ouviu uma assobiadela num estádio
de futebol que muitos políticos começaram a ter medo de multidões, Passos
Coelho evitou-as e Cavaco Silva, condenado a estar presente nas finais da Taça
de Portugal chegou ao ridículo de chegar ao estádio em cima da hora do início
do jogo, para que ninguém reparasse nele quando se sentasse na tribuna.
Ninguém sabe SE Cavaco era adepto de algum clube, nem sequer
se sabe seo o homem gostava de futebol, aliás, em matéria de gostos pessoais o
povo pouco mais sabia do que dos carapaus alimados. Foram dois mandatos
presidenciais de que ninguém tem saudades, daí que o comportamento
absolutamente normal por parte de Marcelo Rebelo de Sousa chega a parecer um
exagero. O ambiente da presidência de Cavaco era o de um velório, daí que a
presidência de Marcelo pareça um arraial permanente.
Aos poucos o país vai sofrendo uma reversão de que a direita
parece não se querer queixar, o país tinha medo que o presidente brincasse, uma
simples referência do presidente ao governo deveria ser alvo de interpretações
durante quase uma semana, era um país de recados velados, de mensagens subtis,
de sombras. Tinha-se medo de governar sem austeridade, foi imposta uma cultura
de graxa aos comissários europeus.
Aos poucos o país vai aprendendo a viver em liberdade, algo
que aos poucos e graças a dois mandatos de Cavaco e um de Passos Coelho quase
deixou de o saber fazer.